sábado, 30 de agosto de 2014

O expert - Luis Fernando Veríssimo

Queridos(as) leitores e leitoras,
Trouxe para vocês um dos contos que mais gostei do livro Os Últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos de Luís Fernando Veríssimo que escrevi a resenha alguns dias atrás. Este conto é hilário, por isso o escolhi para compartilhar com vocês. Espero que gostem assim como eu!

Com Carinho,

Natasha.


O Nabokov tem uma história parecida, mas sobre xadrez. Esta não é plágio, no entanto. Digamos que é homenagem.
- Sessenta e três não foi um bom ano para esse vinho. Muito ácido.
- Que safra você recomenda?
- A de 65. Excelente, o bouquet, o tanino, tudo.
O outro provou o vinho.
- Você tem razão. Muito ácido.
- Mas não deixa de ser um bom vinho. Seco, mas com um substrato quase doce no final. O que os franceses chamam de après-gout
- Exatamente. Já vi que você entende.
- Modestamente.
- Aceita um pouco?
- Não, obrigado.
- Ah, um purista.
- Não, não. É que eu não bebo.
O outro sorriu. Obviamente era uma brincadeira. Uma das maiores autoridades mundiais em vinho não bebia. Boa aquela. Insistiu:
- Só um copo. Garanto que você será indulgente com este pobre 63.
- Mas não bebo mesmo. Nunca botei uma gota de álcool na boca.
O outro parou de sorrir; era sério.
- Mas como? Você entende de vinhos como ninguém e nunca botou uma gota de álcool na boca?
- Nunca.
- Não entendo.
- Eu conto.
O homem tinha sido preso. Não quis entrar em detalhes. Questões políticas. Lutava pela causa do proletariado, era contra a burguesia inconscientemente e seu consumismo conspícuo, achava um absurdo alguém pagar uma fortuna por uma garrafa de vinho enquanto outros morriam de fome, acabara preso.
- Na prisão, não me deixavam ler nada. Aquilo para mim, era a pior tortura. Sempre fui um leitor compulsivo. Não podia passar sem livros e revistas. Mas era proibido.
O outro serviu mais um copo de vinho. O homem continuou na sua mineral.
- Um dia, pedi uma Bíblia. Achei que aquilo eles não podiam negar. Disse que queria me regenerar, fazer um exame de consciência, me encontrar com Deus. Na verdade, queria alguma coisa para ler, qualquer coisa. Eles achavam que eu estava sendo hipócrita. Me negaram a Bíblia.
- Puxa...
- Tentei outro estratagema. Gritei que queria saber quais eram os meus direitos. Exigia que me trouxessem uma cópia da Lei de Segurança para eu saber exatamente em que artigos tinha sido enquadrado. Na verdade, só queria alguma coisa para ler. Eles riram de mim.
- Maldade.
- Pedi que trouxessem histórias em quadrinhos, jornais antigos, qualquer coisa. Nada. Me desesperei. Um dia revirei toda a minha roupa, o colchão da cela, o travesseiro. Sabe o que é que eu procurava?
- O quê?
- Uma etiqueta. Só para ter algumas letras na frente dos olhos por alguns instantes. Eu era como um alcoólatra que se contentaria só com o cheiro do álcool no ar. Mas não encontrei nada. Nem a pia nem a latrina tinham o nome do fabricante. Um dia, embora não fumasse, implorei um cigarro. Um guarda me deu um. Rapidamente, procurei no papel do cigarro o nome da marca. Mas o papel era branco, liso, sem nenhuma letra. Eu não aguentava mais. Então...
- O quê?
- Um dia me levaram para interrogatório. Me botaram de pé contra uma parede, os braços estendidos para os lados. Em cada mão eu tinha de segurar um peso e ficar assim, sem deixar cair o peso. Numa das mãos, eles colocaram uma cadeira. E na outra... Eu nem podia acreditar...
- O que era?
- Um livro! Um livro pesado, capa dura... Fingi que desmaiava e cai abraçado com o livro. Até hoje não sei como consegui chegar com o livro à minha cela sem que eles descobrissem. Não posso descrever a minha alegria. Eu finalmente ia ver letra de novo. Palavras inteiras. Frases, parágrafos, pontuação... Sentir a textura do papel, o cheiro da tinta, o volume de uma lombada bem torneada na mão. Comecei a saborear o livro. Só o título eu li e reli umas cem vezes, quase chorando.
- Que livro era?
- Uma enciclopédia de vinhos.
- Ah...
- Passei quatro anos lendo e relendo a enciclopédia. Decorei tudo. Quando aparecia um guarda, eu escondia a enciclopédia debaixo da coberta. À noite lia com luz de vela. De dia, lia de trás para diante e de diante para trás. Chegava a sonhar com o livro. Sonhava com vinhedos, com chateaux, com safras famosas... Até que um dia me soltaram.
O homem tomou um gole de mineral. Sorria tristemente.
- Você voltou à atividade política?
- Não, não. Era outra pessoa. Meus companheiros tinham desaparecido, ou também tinham mudado. Eu precisava tratar da minha vida. Procurar emprego. Um dia, quando dei por mim, estava na frente de uma casa de bebidas, olhando a vitrine. E me dei conta que conhecia, intimamente, tudo sobre cada garrafa de vinho exposta ali. Tudo! Entrei na loja e comecei a percorrer as prateleiras. Era como encontrar velhos conhecidos. Rótulos que eu conheciam apenas da reprodução na enciclopédia ali estavam, ao vivo. Com o último dinheiro que tinha, comprei uma garrafa de bordeaux, um Saint Emilion menor. Levei para a pensão onde estava morando. Abri a garrafa, servi no copo que usava para escovar os dentes e não fui além do primeiro gole. Sempre tivera nojo de álcool e o meu gosto não mudara. Eu era um expert numa coisa que abominava. 
- E desde então...
- Desde então me dediquei à crítica enológica. Hoje sou reconhecido mundialmente como especialista em vinhos. Escrevo para revistas gourmets. As pessoas comentam o meu estilo irônico, o meu distanciamento aristocrático, e me imaginam um sibarita enfastiado. Aposto que meus velhos amigos de esquerda me consideram um traidor. Sou convidado para mesas de milionários - como a sua - e me comporto como um deles. Só que bebo mineral.
- Bem, vamos passar ao conhaque. Qual é o que você recomenda?
- Hennesy. Quatro estrelas.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Os Últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos. 1 Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Os últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos - Luís Fernando Veríssimo

Caríssimos(as) leitores e leitoras,

Minha primeira resenha sobre livros será sobre Os últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos, do autor brasileiro Luís Fernando Veríssimo, que é conhecido por sua escrita simples, criativa e humorística. De forma geral, Luís Fernando tem uma característica própria expressa em seus textos, e isso permite, que facilmente, o leitor se identifique em algumas de suas histórias. Já que ele retrata o cotidiano!


Este livro foi lançado em 2013, pela Editora Objetiva. Ele tem 162 páginas, é 16x23. Além de ser impresso em um papel muito parecido com Pólen, que outrora já descrevi as características e vantagens deste tipo de papel nos livros.
Bom, eu sempre gostei muito da escrita e do humor de Luís Fernando Veríssimo, comprei este livro, motivada principalmente por isso. Sou fã de carteirinha de outros livros dele, como: Sexo na Cabeça, Ed Mort e Outras Histórias e As Mentiras que os Homens Contam, que simplesmente li, reli e contei para todo mundo o quanto era bom. Dessa maneira a comparação destes com Os últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos, foi quase inevitável.

Luis Fernando Veríssimo


O livro apresenta 10 contos, que trazem desde “Os últimos Quartetos de Beethoven” até “A mancha” que trata de uma mancha de sangue em um carpete de um prédio abandonado, que data do período da Ditadura Militar no Brasil. Dá pra ver que é bem plural. No entanto, comprei este livro pensando que iria rir do começo ao fim. E não foi bem assim. Mas, o livro também é marcado por alguns contos divertidíssimos.
Achei meio maçante quando comecei a ler o conto “A mancha”, por que ele é longo demais. E tive a impressão de já ter lido um dos contos, justamente um dos que eu mais gostei, “O expert”.
Ah, ele também trás no conto “Lo” o assunto da pedofilia. Ele descreve a história de um menino de 12 anos que foi adotado por uma francesa, que na verdade não o queria como filho. O conto é narrado pelo menino “Rosé Rosé” que conta de forma detalhada como era estar com a suposta “mãe”. Particularmente não encontrei o humor neste conto. Pelo contrário, compreendi a crítica social que Luís Fernando fez, porém achei inadequado este tipo de conto no meio do livro, que até então trazia contos, digamos, mais leves e mais humorísticos.
Adorei “Memórias”, “Contículo”, “O expert” como já havia falado, e em “A mulher que caiu do céu” eu simplesmente me encantei, e percebi toda a característica de humor, criatividade e originalidade de Luís Fernando reunida neste conto.
Na verdade as pontadas de crítica social e expressões da questão social, como violência e pedofilia, estão bem mais presentes nesse livro do que nos outros que li dele, inclusive se puder farei resenhas sobre eles também.
Esta é minha visão sobre o livro Os últimos Quartetos de Beethoven e Outros Contos, e você, já leu? Gosta dos livros de Luís Fernando Veríssimo?

Com carinho,
Natasha Alves.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Edição Econômica ou Edição Normal? Tire suas dúvidas...

Caros(as) Leitores e Leitoras,

Não sei se vocês já se perguntaram ou já ouviram alguém perguntar sobre as diferenças entre a Edição de livros Econômica ou Normal. O fato é que, muitas pessoas desconhecem essas diferenças, e até pensam que a Edição Econômica reduz o livro. Será?

Elenquei os principais, se não todos, os componentes que considero que diferenciam os dois tipos de Edição.

Em primeiro lugar destaco a CAPA. Geralmente as capas dos livros de Edição Econômica são mais brilhosas que na Edição Normal, uma vez que estas últimas geralmente aparecem com uma capa meio fosca. Mas, ha Edição Econômica que a capa é quase igual, à capa da Edição Normal. Ha também os detalhes em alto ou baixo relevo, que nunca (pelo menos eu nunca vi) aparecem na Edição Econômica. O material da capa do livro de Edição Econômica pode parecer um pouco mais fino que a normal, mas acredito que seja pela falta das ORELHAS, que é o que irei falar adiante.

Para que servem as ORELHAS, afinal? 



Ha pessoas que não sentem muita falta delas, mas na Edição Normal elas aparecem e sempre trazem informações adicionais, como um pequeno resumo do que o leitor pode esperar do livro, e também informações sobre o autor ou autora. Que eu sempre gosto de ler! Infelizmente essas informações não aparecem nas Edições Econômicas.

Quanto as LETRAS e formatação do livro. No exemplo que tenho para mostrar a vocês percebo uma pequena diminuição do espaçamento entre parágrafos e entre linhas. Ou seja, as frases estão mais próximas, e para quem tem problema de concentração na leitura, pode ser um desafio ler o livro, sem confundir o próximo parágrafo com o parágrafo atual nenhuma vez. Mas isso é mais uma questão de concentração do que um problema para a Edição Econômica, já que essa pequena confusão pode acontecer em qualquer momento e em qualquer leitura. Quanto ao tamanho das letras, não observei nenhuma diferença, mas em outros livros pode ser que haja sim uma diminuição considerável do seu tamanho.

As FOLHAS são as maiores vilãs dos livros em Edição Econômica, na minha opinião. 



Os livros de Edição Normal, geralmente são impressos em um papel chamado Pólen Soft. Mas ha livros, mesmo em Edições Normais que esse papel não aparece, então esse não é bem um problema só das Edições Econômicas. Esse papel, ele contribui para que a leitura seja mais prazerosa, e menos cansativa. O atributo principal dele é o fato que ele não reflete a luz, dessa forma ele não cansa muito a vista. Já os outros livros de Edição Normal, que não tem esse papel, e TODOS os livros de Edição Econômica são brancos, e finos, e se parecem muito com a folha A4. Os papeis do tipo Pólen, eles são amarelados, um pouco mais grossos, não são muito transparentes. E muitos livros que trabalham com esse tipo de papel, ainda podem apresentar um selo que garante que a madeira que foi utilizada para fabricar o papel, provém de florestas que foram exploradas de forma ambientalmente correta e aceitável. O que é bem legal para a nossa consciência ambiental, não é?

Outra diferença expressiva é o PREÇO. Na Edição Econômica, o próprio nome já diz que ela é mais barata do que a Edição Normal. Mas vários sites e livrarias realizam promoções que muitas vezes o livro de Edição Normal pode ficar até mais barato que o de Edição Econômica. Vale a pena pesquisar antes de comprar. E, sobretudo, é importante observar a descrição do livro, pois alguns sites fazem mega promoções de livros, com preços inacreditáveis, e vendem a Edição Econômica e nós só percebemos depois que o livro chega na nossa casa. Os livros de Edição Econômica em geral são de 14x21, e os de Edição Normal são de 16x23. Mas, ha também os livros em Edição Normal, que são de 14x21, pois só foram fabricados nesse tamanho.

Considero o livro de Edição Econômica mais versátil, no sentido de não ocupar muito espaço na bolsa. No entanto, a Edição Normal é mais confortável de ler. Por exemplo, o dispêndio de força para abrir um livro de Edição Econômica é bem maior do que o necessário para abrir um de Edição Normal, por conta, justamente, do seu tamanho.



A conclusão de toda esta sopa de informações é que, só você saberá escolher qual é a edição que mais satisfaz às suas necessidades. Prefiro a Edição Normal por todos os detalhes que elenquei e também pelo fato de que na minha estante ha mais livros 16x23, do que 14x21. Mas isso é só uma questão de estética. O importante mesmo é a leitura, e esta pode ser realizada até com livro de bolso!

Ah, e NÃO, o livro de Edição Econômica não é reduzido, é o conteúdo completo da publicação, igual ao livro de Edição Normal.

Com carinho,

Natasha Alves



domingo, 24 de agosto de 2014

Um sonho antigo...

Estimados (as) leitores e leitoras,

Este blog foi criado para você que ama os livros assim como eu! Compartilharei com vocês os livros que mais gosto, incluindo resenha de vários deles; aceitarei sugestões de postagem; e também trarei contos e crônicas de minha autoria, assim como postarei tudo sobre o romance que estou escrevendo #Fascinante. Enfim, este espaço é voltado para engrandecer o nosso intelecto. E eu espero fazer parte de um cantinho especial da leitura de vocês, uma vez que me dedicarei a postar conteúdos importantes, que nos enriqueça ainda mais e a atender a todas as suas solicitações.

Espero que gostem!

Com carinho,


Natasha Alves.