Paixão de uma Noite: quando o improvável, acontece.

Queridos(as) Leitores e leitoras,


Esta primeira postagem, dedico ao meu esposo, que incansavelmente me ajudou a criar este Blog. Adianto que esta é uma das crônicas de minha autoria, e desejo a vocês as melhores sensações que ela pode nos trazer.



Um mês antes...
Você tem um novo e-mail!
Quando o alerta surgiu em meu celular, imediatamente cliquei para abrir a nova mensagem. Estava esperando a resposta de uma seleção de estágio que estava participando, portanto, qualquer alerta virtual ganhava minha total atenção.

Para: Natalie Alves
Assunto: Playlist “alternativa” que vc pediu!
1 – Chasing Pavements – Adele;
2 – Crossfire – Brandon Flowers;
3 – Mais que o Sol – Banda Malta;
4 – Set Fire To The Rain – Adele;
5 – Entre nós dois – Banda Malta;
6 – Alguém – Banda Malta;
7 – Quanto Tempo Demora um Mês a Passar – Biquini Cavadão.

“Responder”.

De: Natalie Alves
Para: Aurélio Lima (aurélio_rocknaveia@linkmail.com)
Assunto: Para qual planeta vc foi levado?
Oi? É você mesmo? Tem alguém com o coração mole, hoje?

Para: Natalie Alves
Assunto: Para o seu.
Combina com vc. Foi o q vc me pediu: músicas q combinam com o q vc chama de estilo só seu. Se n quiser, vá pedir ao padre da próxima vez.
De: Natalie Alves
Para: Aurélio Lima (aurélio_rocknaveia@linkmail.com)
Assunto: Mas eu não te vejo em lugar algum!
Bom, eu amei. Era o q eu precisava.
Obg. J
PS.: deixa de ser ranzinza. Não é pq vc é roqueiro que precisa ser assim. Bjo p Christie.

Para: Natalie Alves
Assunto: Não sou garoto de recado.
Ela ta perguntando se vc vem pro show. No mês que vem.

De: Natalie Alves
Para: Aurélio Lima (aurélio_rocknaveia@linkmail.com)
Assunto: Quem mexeu no teu queijo?
Mas é claro. Não perderia esse show por nada.  



Soltei o cabelo e terminei de passar o gloss. Encarei Christine pela milésima vez:
- Ainda não acredito que você não vai.
- Ai amiga, já te falei, estou muito cansada, sei que tínhamos planejado ir juntas, mas não estou em condições. E também acho que você nem vai sentir minha falta.
- Tratante!
Christine era uma amiga de longa data, mas sinceramente, sentia vontade de sufocá-la com meu travesseiro de gato. Passamos o mês inteiro planejando ir àquele show juntas, e ela tinha me feito viajar 70km para me dizer que não iria comigo! Mas aquilo, afinal, não tinha sido tão ruim. Estar com ela era sempre garantia de diversão e eu adorava a sua família. Quando cheguei pela manhã, eles me receberam como sempre: um belo café da manhã, apesar de serem quase onze horas. Eles eram exagerados e tinham o hábito de me fazerem comer demais. O que era péssimo levando em consideração que eu sempre lanchava antes de sair de casa.
- Aurélio disse que vai... Talvez vocês se vejam lá.
Aurélio é seu irmão mais velho. Conversamos algumas vezes pela internet. Na verdade, só conversamos pela internet. Sempre que nos vemos pessoalmente eu corro dele ou ele foge de mim. Simples assim! Nosso lance é totalmente virtual e musical. E no fim das contas, bem, não tínhamos nenhuma interação ou convívio social. Ele é legal e muito gato, diga-se de passagem.
- Isso ajuda pouco! – Bufei.
- Eu não diria isso...
- Ah, Christie, fala sério! Como é que você acha que vou ficar lá com ele? Você sabe que o máximo que a gente fala é: oi e tchau!
- Talvez seja diferente hoje...
- Isso não muda a sua covardia.
- Um passarinho me disse que ele não vai levar nenhuma das manequins de academia. - Christie costumava chamar assim as mulheres com quem o irmão saía. – Além do mais, ele pode te trazer de volta...
- Até parece! É mais fácil um elefante cantar no lugar do Dilan do que eu pedir carona ao Aurélio.
- Fique tranquila, eu falo com ele. – Ela deu uma piscadinha e saiu do quarto.

Minha saia curtíssima de couro preto e minhas botas de cano médio me obrigaram a ir de taxi para o show. Cheguei cedo demais, o que foi bem constrangedor, considerando o número de pessoas no campo que olharam para mim.
Droga! Arrependi-me não uma, mas várias vezes de não ter chegado depois que as primeiras bandas já estivessem tocando. De todo modo, não ter os saltos atolados na grama e na lama do campo, já era uma vantagem que me colocava à frente das outras garotas que haviam cometido o mesmo erro de horário que eu.
Quando finalmente encontrei o lugar perfeito, um rosto familiar se materializou alguns metros à minha frente. Aurélio! Na indecisão de ir ou não ir ao seu encontro, já que ele estava entre amigos, optei por continuar sozinha conhecendo o ambiente. Que para a minha sorte era bem agradável.
Mas, no instante em que nossos olhares se encontraram senti um arrepio passeando pelo meu corpo, com a força de uma correte elétrica. Ele estava com uma jaqueta preta como a minha saia, e usava suas botas por cima da calça jeans, o que o deixava um roqueiro legítimo. Lembrei as primeiras músicas que trocamos. Ele achava meu estilo Pop demais, enquanto eu o achava bruto demais por só querer escutar Heavy metal. Mas ele tinha nascido para ser roqueiro. E especialmente para se vestir como um.
Demorou alguns segundos até que meu cérebro foi trazido de volta à realidade e compreendeu que ele acenava me chamando. Timidamente, porém estranhamente determinada, segui em sua direção, sentindo minha pulsação aumentar a cada passo.
- Oi Natalie, chegou cedo! – Ele deu um sorriso encantador assim que me aproximei. O que era uma evolução comparada às nossas interações anteriores. – Este é Adam, Marcus, e Christopher. – Disse ele apresentando seus amigos.
- Pode me chamar de Chris. – Christopher se aproximou rápido de mim, me deixando um pouco retraída.
- Oi, Chris. – Ofereci minha mão para cumprimentá-lo, mas ele a segurou e me puxou ao seu encontro. Por sorte, antes do segundo beijo melado na bochecha, Joseph conseguiu me desprender dele.
- Já chega Christopher! – Aurélio falou grosso e eu fiquei um pouco sem graça, me resignando a cumprimentar os demais à distância.
Continuei estudando o ambiente como estava fazendo antes. A primeira banda já se apresentava no palco. Era muito boa, mas eu não sabia nenhuma música, e tão pouco o nome deles. Christie ia me pagar por me deixar vir sozinha. Eu não era uma pessoa muito sociável, afinal de contas. Apesar de Joseph se esforçar para me manter na conversa entre os amigos eu só conseguia pensar em qual seria o motivo dele não parecer mais distante e indiferente como as outras vezes em que estive em sua casa. Talvez Christine estivesse certa quando disse que eu não sentiria falta dela.
- Nós vamos dar uma volta. – Marcus falou repentinamente e saiu puxando o Chris pelo braço. – Vamos Adam.
Sorrio para eles, com seu andado de roqueiro desajeitado, e só então percebo que estou só com Joseph. Vejo-o de perfil, aproveitando que ele parece distraído olhando para o palco. Ele era realmente muito lindo. E sexy também. Senti minhas bochechas ficarem vermelhas com aquele pensamento inapropriado. Ele era irmão de uma amiga, e deveria existir algum tipo de código de conduta entre as amigas, de uma não se interessar pelo irmão da outra. Além do mais ele estava concluindo a faculdade, que por mais bizarro que parecesse, era de enfermagem! Mas ele tinha me dito uma vez, que queria cursar medicina, e enquanto não chegava a hora certa, optou por fazer enfermagem, que não seria tão distante do outro curso. E, bem, ele não era bem o tipo de rapaz que se interessaria por uma garota de 19 anos e tímida como eu.
Ou era?
- Será que ainda vai demorar pra começar? – Perguntei a ele para quebrar o silêncio, e afastar a enxurrada de pensamentos que me invadiu.
- Acho que ainda tem umas bandas antes. Por quê? – Ele se virou para mim.
Ai meu Deus! De frente ele era ainda mais tentador.
- Eu, é... Queria comprar algo para beber.
- Vamos, eu vou com você.
Sorrio para ele agradecida. E andamos até uma barraquinha de bebidas, onde, tive sorte de encontrar uma garrafinha de água.
Na volta, estávamos um pouco mais a vontade e paramos quase no mesmo lugar onde estávamos antes. Começava a anoitecer e alguns instrumentos eram testados no palco.
- Não sei por que a Christine não veio... Ele parecia tão empolgada. – Falei meio triste. Ainda não tinha me conformado.
- Eu pedi que ela não viesse.
Meu queixo caiu e eu não soube o que dizer. Ele me olhava intensamente. De um jeito que nunca havia feito.
- Oi? – Perguntei me sentindo um pouco ridícula devido a minha expressão de surpresa.
- Queria ficar um pouco com você... – Sua voz soou mais rouca que o habitual. – Sempre que você vai lá pra casa, só fica no Clube da Luluzinha com as minhas irmãs, então achei que esse era o momento oportuno pra te roubar delas. Um pouco.
- Eu... – Nem sei por que tinha começado a falar, já que não conseguiria dizer nada.
- Não precisa dizer nada. É só ficar aqui... comigo. E aproveitar o show.
Arregalei os olhos quando finalmente a ficha caiu. Minha respiração ficou pesada e quase me senti sufocada. Ele estava me paquerando?
Senti o sangue fugir do rosto e depois queimar minha face. Joseph arregalou os olhos e se aproximou de mim pegando no meu braço.
- Você está bem? – Seus olhos estavam carregados de preocupação e algo mais.
Respirei fundo e fiz uma besteira. Comecei a falar como uma tagarela, como sempre fazia quando estava nervosa.
- Estou surpresa com tudo isso. Você nem falava comigo direito... Tudo bem que trocávamos músicas, nomes, às vezes bandas... umas eram boas outras ruins, por que você só gosta de rock... – Respirei fundo e parei ao ver a cara de divertimento que ele fazia. – Mas eu... estou feliz. Muito feliz por estar aqui. Com você. – Consegui dizer, enfim.
Ele sorriu adoravelmente. Minha respiração estava descompassada e meu coração pulsava na garganta. Algo tinha mudado no ar, era perceptível até para uma pessoa alheia à nossa conversa.
Mais uma banda subiu ao palco e começou a tocar. A maioria das músicas eu nunca tinha ouvido e as que conhecia eram melhor tocadas por outras pessoas, mas estava feliz demais para reclamar da banda, das músicas ou de qualquer outra coisa.
Uma música se intensificou e logo as pessoas ao nosso redor começaram a pular. E com um instinto reflexivo, Joseph as acompanhou. E se alguém já viu um roqueiro pulando, deve saber que: ou é contagioso, ou é repugnante.
Ele parou sorrindo e pegou a garrafinha de água que eu tinha nas mãos, colocou-a no chão e me puxou para pular junto com ele. Encantada com aquele novo Joseph, me contentei em acompanhá-lo naquela brincadeira.
Quando a banda parou te tocar, estávamos cansados e suados na testa. Mais sorrindo como dois bobões. Um brilho especial em seus olhos, me fez sorrir ainda mais. Eu podia estar descabelada, com o lápis de olho borrado, suada, mas nada me faria tirar os olhos dos seus. Eu me sentia presa. E aquilo não soava nada mal.
Com um esforço sobre-humano, me abaixei pegando a garrafinha que já havia sido chutada por nós algumas vezes e bebi uma grande quantidade de água, depois ofereci para que ele, que aceitou prontamente. Ele derramou um pouco do líquido nas mãos e molhou o cabelo, agitando os fios em seguida. Seu cabelo ficou caído no rosto e eu o achei digno de uma foto emoldurada.
Entre alguns goles ele parava para sorrir. Devia estar pensando no que eu estava pensando. Até que a água acabou e ele me entregou a garrafinha fazia.
- E aí? Está gostando Nat?
Sorrio quase partindo o rosto ao meio. Tínhamos saído das trevas para a luz, naquele dia. Era inacreditável.
- Sim, muito!
Depois de algum tempo uma banda com um som bem mais lento e pop, como eu gostava, começou a tocar. Coincidentemente, eles iniciaram com uma música que Joseph havia mandando para mim uma vez. Parei um instante para observar a batida, por que era uma adaptação da banda. Ele me olhava ansioso, e sorrimos ao mesmo tempo diante daquela doce coincidência.
Quanto Tempo Demora Um Mês de Biquini Cavadão era a música. E só naquele momento compreendi o significado que aquela canção tinha para ele, e para nós a partir daquele instante mágico. Sei também que ele percebeu o exato instante em que eu tomei consciência disso, por que seus olhos ficaram tenros e brincaram com o meu olhar por alguns minutos, enquanto a banda tocava aquela que passou a ser a nossa música. Pelo menos naquela noite.
Uma mexa de cabelo caiu sob seus olhos e uma gotinha de água escorreu pelo seu rosto. Inclinei a mão para enxugá-la, e o fiz sem muita certeza se o que eu sentia era carinho ou algo mais. Ele sorriu, pegando minha mão e pousando os lábios em um beijo. Inclinei a cabeça de lado, sem acreditar que aquele homem era capaz de um gesto como aquele. Naquele instante, ouvimos o vocalista perguntando se havia gente bonita naquele show e várias pessoas gritando em resposta. Surpreendendo-me, Joseph levantou o meu braço e gritou:
- Tem sim!
Algumas pessoas ao redor olharam para mim sorrindo. Senti-me um pouco envergonhada, admito. Mas quando a euforia declinou, ele se aproximou de mim, colocando as duas mãos no meu rosto e chegou bem perto dos meus lábios.
- Você é linda. – Dizendo isso, ele me beijou.
Derreti-me toda em seus braços, sentindo seu gosto pela primeira vez. Era maravilhoso e reconfortante estar ali. Era como se eu intimamente esperasse por isso a muito tempo, e só naquele momento havia percebido. Ele inclinou minha cabeça e beijou várias partes do meu rosto, sorrindo. Deixei-me levar pela singularidade do seu toque, e gradeci baixinho por Christine ter desistido. E por eu ser tão sortuda!
Passamos o restante da noite agarradinhos. Exceto quando o vocalista começava a pular e Joseph me arrastava para pular junto com ele. Mas sempre me beijava muito depois e dizia coisas lindas ao meu ouvido, enquanto nossa respiração se acalmava.
Ele foi tão gentil e carinhoso... Gostaria que aquela noite parasse no tempo, e que aquele momento se multiplicasse. Já que no dia seguinte, tudo será apenas uma lembrança.
Voltamos para casa por volta das duas da madrugada. Cansados e felizes. No dia seguinte eu estava arrasada de sono, especialmente depois do banquete de almoço que os pais de Christine preparam. Incapaz de segurar o corpo em pé, deitei na cama de Clara, a irmã mais nova de Christine.
Entreguei-me ao sono, relembrando a noite anterior e toque dos lábios de Joseph. Ele tinha saído cedo, e para a minha tristeza ainda não tínhamos nos encontrado. Nem na hora do almoço. Mas uma conversa distante me deixou totalmente à alerta.
Aparentemente estavam: Christine, a mãe, Joseph, e Clara.  
- Joseph quem foi a garota que você ficou no show ontem? – Clara perguntou. E meu coração parou de bater. Ainda bem que eu estava deitada, caso contrário, cairia no chão com taquicardia.
- Que história é essa? – Perguntou Grace, a mãe deles.
- Não é nada, mãe! – Respondeu Christine, salvando-me de um infarto fulminante sem saber.
- Mas o Nathan falou que viu você com uma garota, e disse que era muito bonita.
Putz.
- Quem é Joseph? – Ela continuou.
- Me deixe em paz, Clara. – Ele a repreendeu e ela parou de fazer perguntas.
Ouvi os armadores rangerem. Ele deveria estar deitado na rede, assistindo TV, o que raramente acontecia. Eu tinha quase certeza que se aparecesse na sala, ele fingiria que nada havia acontecido entre nós. E mesmo triste, e o compreendia.

À noite saí com as meninas e tiramos muitas fotos de recordação. Conversamos sobre muitos assuntos, mas nada relacionado ao show. Para minha sorte... Não sei se Christine falou para Clara que sou eu a “tal garota do show”. Só sei que já sentia saudade daquela família, daquela cidade, e daqueles beijos. O que eu poderia fazer?

Antes de sair me despedi de todos e fiquei um pouco triste por Joseph não estar em casa na hora. Mas assim que cheguei à porta da sala ele apareceu. E eu abri um sorriso tão grande que fiquei com vergonha da minha reação.
Ele me cumprimentou rapidamente, pois estava na frente dos pais e das irmãs, mas, quando meu taxi chegou, ele levou minha bolsa até o carro e abriu a porta para mim. Meu coração martelava no peito. Antes de entrar ele cochichou no meu ouvido.
- Coloquei umas músicas no seu ipod. – Sorrindo discretamente, ele me entregou a bolsa e entrou em casa, antes de eu dar minha resposta.
Gostaria de ter tido a chance de perguntar: Como você colocou músicas no meu ipod? Como você pegou o meu ipod? Mas resolvi deixar que o suspense preenchesse o meu coração juntamente com a saudade e a vontade de ficar.
Voltei para minha casa com uma sensação indescritível dentro de mim. Quando entrei no ônibus, abri a bolsa e peguei a garrafinha de água do show de ontem. Abracei-me a ela tentando sentir novamente o cheiro dele.
Voltei à realidade de que tudo havia se tornado uma lembrança. Mas senti uma disposição absurda preencher meu coração. Eu iria embarcar naquele sonho novamente. Daqui a um mês...


By Natasha Alves - Todos os direitos reservados.

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