Queridos(as) leitores e Leitoras,
Essa amostra será liberada em comemoração ao Dia do Escritor. Como sempre, espero que vocês gostem, e que comentem Haha... Brincadeira. Eu estou na torcida para ser bem aceito por vocês. Boa leitura. =)
Dois
Ai
meu Deus. Como assim até breve? Olhei
a parte de trás do cartão, mas estava em branco. Não era um cartão de
apresentação. Como se ele precisasse!
As únicas informações que eu tinha daquele Estranho, eram: as suas iniciais e a
certeza de que ele me encontraria em
breve.
Sentia
que o certo a fazer era esquecer tudo aquilo. Ele não tinha mandado o número e
nem tinha me dito seu nome, e a única vantagem nessa brincadeira era que ele
também não tinha os meus dados. De toda forma, eu estava segura, então,
restava-me esquecer. Bom, tentar esquecer... Manhattan tinha quase dois milhões
de pessoas e não seria fácil me encontrar. Não mesmo.
A
noite passada tinha sido sensacional, mas não podia deixar que isso ultrapasse
a barreira da lembrança. Precisava me concentrar no trabalho e nos sonhos que
buscava. Um relacionamento com certeza não estava inserido nesse processo.
Tirando o fato de ele ser o tipo de homem que eu gostaria de me envolver, eu
precisava pensar que jamais deveria fazer isso.
Tomei
um banho rápido, e escolhi para aquela manhã uma saia preta e uma blusa de ceda
vermelha. Calcei meu Louboutin preto de salto fino. Prendi os cabelos em um
rabo de cavalo e fiz uma maquiagem clean. Enquanto conferia os itens da minha
bolsa, percebi que Laura ainda não havia chegado. Típico! O relógio na parede marcava sete e quarenta. Eu precisava
trabalhar e tirar aquele sujeito lindo, gostoso e sexy da cabeça.
No
caminho, me perdi um pouco em pensamentos olhando a rua pela janela do taxi.
Nunca vou cansar daqui. Nova York tinha quase tudo o que eu precisava, o que
faltava contudo, eu não encontraria em nenhum outro lugar. Esta cidade
simplesmente unia o antigo ao contemporâneo, e fazia o raro e o cotidiano se
confundirem. As pessoas viviam os seus sonhos, sua vida. E o poder emanava de
cada parte de Manhattan. Não sei o que aconteceu comigo desde que cheguei aqui,
mas sinto que rompi o casulo emocional e psicológico que me prendia e me tornei
uma borboleta, pois até o caos aparente das ruas, mexia com os meus sentidos.
Isso
podia parecer muito profundo para aquela hora da manhã, mas era assim que me
sentia, sobretudo, depois do furacão sem nome ou denominação que passara por
mim poucas horas atrás. Tirando todas as suas características óbvias, ele
despertou em mim algo que eu não queria. Ele me fez querer mais... Mais dele,
mais de mim, e mais de Nova York. Era assim que estava naquele belo treze de
junho: pronta para conquistar o mundo com as mãos.
________________________________________
Entrei
no andar/sede da redação da Revista Contemporary. E como ainda não havia me
acostumado, senti o estranhamento de entrar lá como Gerente Executiva. Tinha
minhas dúvidas se um dia iria superar essa sensação. Afinal, estava naquele
cargo a dois anos, e não tinha sido fácil chegar até ele. Nem de longe.
-
Bom dia, Marta!
Cumprimentei
minha assistente. Veja só que engraçado. Um dia eu estava servindo cafezinho
aos funcionários da redação, no outro, eu tinha uma assistente que faria tudo o
que eu pedisse. A nossa sorte, apesar de tudo isso, era que eu conhecia bem
como era estar a baixo, dependendo de ordens, sob o comando de alguém, e
portanto, não exploraria seu trabalho.
-
Bom dia, Kathy. Precisa da sua agenda?
-
Ham... Não preciso, tenho tudo no computador. Obrigada.
Abri
a porta da minha sala e um sorriso. Eu adorava aquele ambiente. O decorara
assim que pulei do cargo de assistente do editor-chefe para gerente executiva. Usei
todos os tons de cinza que eu conhecia, com pequenos toques em amarelo que se
sobressaiam tornando o lugar agradável e acolhedor. Na verdade, o cotidiano da
revista merecia que eu criasse um local tranquilo para assegurar a continuidade
da sanidade da minha mente.
Quanto
mais nos aproximávamos do período de lançamento de uma edição, tudo virava de
cabeça para baixo. Eu trabalhava constantemente para tentar decifrar por que
nos empenhávamos tanto e sempre, sempre, tudo se transformava em uma loucura
quando faltavam apenas dois dias para o lançamento.
Inclusive,
foi a minha ideia de agilizar e criar um cronograma estritamente obrigatório
para cada setor que me fez subir de cargo, acredite ou não, a situação era pior
antes de mim.
- Vou
trazer seu café.
-
Você e essa sua mania de me encher de cafeína, não é Martinha?
Realmente
me incomodava com aquilo. Mas eu sabia que Marta, com quase o dobro dos meus vinte
e seis anos, só queria cuidar de mim. Por isso eu aceitava. Mas sem nunca
deixar de lembrar os meus anos como a Garota do Café, como era conhecida. Ninguém
mais além do Sr. Rowling me chamava pelo nome.
Aprendi
que aquilo poderia ser mais ofensivo se eu levasse a sério. Dessa forma, decidi
fingir que não me importava em ser ninguém naquela empresa. Tudo isso, porém,
teve seu lado positivo, quando decidi que faria uma faculdade, e tive meus
estudos financiados pelo Sr. Rowling e sua esposa, e especialmente depois que
comecei meu estágio, todos tiveram que aprender meu nome. Pois eu estudava em
todos os horários disponíveis para conseguir me destacar, e ser alguém. E eu
consegui.
Sem
contar que me tornei uma representante “do povo” no poder, como algumas amigas
faxineiras diziam. Elas também se sentiam “ninguéns” naquela empresa, mas eu
fazia questão de chamar cada uma pelo nome e me confraternizar com elas. Utopia
ou não, era aquele o meu jeito de protestar contra o “jeito nova-iorquino” de
ser.
E de
Garota do Café, passei a ser Senhorita Willians – para o poder – a Gerente
Executiva, que coordena, marca, reúne, demonstra, apresenta e mantem contato
com nossos pesquisadores das ruas. E de certa forma, todos em algum momento da
semana ou do mês precisavam entrar em contato comigo.
-
Mas hoje é sexta, querida, você precisa estar focada.
-
Marta, você ainda vai me deixar uma noite sem dormir com esses seus cafés. – Sorrindo
minha amiga/assistente saiu.
A
manhã praticamente voou na redação. Trabalhar na Revista Contemporary World requeria
de todos nós um empenho adicional. Nós tínhamos que buscar um diferencial que
nos destacasse das demais revistas, mas também, precisávamos lidar com o fenômeno
da mídia virtual, que dia após dia, fazia cair nossos índices de venda e
retorno do público. Mas a revista tinha construído uma história de quinze anos
e apesar dos percalços estava conseguindo se manter firme no mercado,
resistindo sobretudo, à crise mundial. Esse inclusive era um assunto recorrente
em nossas pautas.
Organizei
os preparativos para a reunião de pauta que tínhamos todas as sextas às quinze
horas. Depois de alguns telefonemas senti um arrepio eriçar os pelos dos meus
braços. Era a primeira vez que a lembrança da noite anterior invadia minha
mente. Jamais saberia dizer o que puxou o gatilho da memória, mas o calor que
eu sentia no peito me presenteava com a certeza de que eu não iria esquecê-lo
pelo restante do dia.
Apesar
disso, continuei conferindo alguns índices e por volta das onze horas Laura me
ligou. Era bom saber que ela estava viva!
E me convidou para almoçar. Pelo telefone já conseguia perceber o seu sorriso.
Sentia que ia ouvir mais do que falar durante aquele almoço, mas era algo bom e
serviria para me distrair da minha própria mente.
Combinamos
de almoçar em um bistrô que ficava no mesmo quarteirão do prédio em que eu
trabalhava. Laura parecia ansiosa demais para sentar e relatar os acontecimentos
da noite passada, como nunca a tinha visto. E assim que fizemos o nosso pedido
ela começou a tagarelar sobre sua noite maravilhosa.
-
Daí ele me levou para o apartamento dele, que é enorme, lindo, e luxuoso. E fica
na Quinta Avenida mesmo. – Disse ela depois de um longo relato.
-
Ele trabalha com o quê?
-
Não sei. Acredita que esqueci de perguntar.
- E
vocês vão se encontrar de novo?
-
Ah, Kathy... Acho que sim. Ele é tão, tão... Viril, sei lá.
- Ai
meu Deus, Laura, sua tarada! – Caimos na risada.
- Eu
quero me encontrar com ele de novo. Quero sim, quero muito.
- Já
imagino por que...
A
hora do almoço passou rapidamente e logo tive que despedir-me de minha amiga apaixonada. Ela disse que
chegaria em casa por volta das nove, pois iria a academia. O que eu também
deveria fazer, considerando que eu andava um pouco relapsa com minha saúde.
Quando
voltei ao trabalho na mesa havia um bilhete de Marta me aguardando:
Srta. Williams, o Sr. Rowling pediu que assim que
retornasse do almoço ligasse para ele.
Marta.
Logo
ao primeiro toque a atendente do Sr. Rowling anunciou que minha ligação era
aguardada.
- Katheriny
que bom que recebeu meu recado. Como você está?
A
voz do meu chefe soava sempre paternal ao se dirigir a mim. Já havia me
acostumado. E até presava por isso, no auge dos seus sessenta anos e um metro e
sessenta de altura, ele conseguia ser absolutamente acolhedor com qualquer
pessoa daquela revista. Mesmo nos dias mais estressantes, mesmo naqueles dois
dias que comentei antes. De tal forma, que um dia ele se propôs para ser o
financiador dos meus estudos. Veja só, eu atrás de uma cafeteira conversando
pelo celular com minha mãe, ele ouviu. Mas não só ouviu, ele sentiu empatia por
mim, ele acreditou.
E
aqui estou eu, ha quase sete anos nessa empresa. Tendo passado da copa, para o
cargo de estagiária, depois para assistente e finalmente para a gerência. O mínimo
que eu poderia ter por aquele senhor era respeito e dedicação incondicional.
- Muito
bem, obrigada. E o senhor e a Sra. Rowling?
-
Bem, obrigada. Ela tem perguntado por você. Venha jantar conosco qualquer
noite.
-
Obrigada, senhor. Mas em que posso ajudá-lo? Algum problema? – Perguntei um tanto
apreensiva.
-
Não. Nenhum problema. Só preciso informá-la de que a reunião das quinze horas
não será de pauta. Quando estivermos reunidos explicarei tudo. Por hora adianto
que nós teremos um convidado.
- Um
convidado?
-
Sim. Um empresário, dono de uma rede de joalherias, um amigo. Por favor, reúna
toda a equipe e informe do nosso convidado e do cancelamento da reunião de
pauta.
- Tudo
bem Sr. Rowling.
-
Ok. Obrigada.
Desliguei
e olhei para o relógio, ainda faltava um bom tempo para a reunião. Liguei o
monitor a minha frente e resolvi conferir os meus e-mails. Enviei a maioria
para a lixeira. Até que um me deixou intrigada. Só havia as letras: N. H. e
estava sem assunto. Span! Cliquei
para excluir também, quando algo iluminou minha mente. N H eram as iniciais que
estavam no cartão que eu tinha recebido do Estranho.
Peguei
minha bolsa o mais rápido que consegui, sentindo as mãos ficarem frias. Podia
estar enganada. Vasculhei em cada compartimento, com medo de tê-lo esquecido em
casa. Não, por favor, não... Quase
cai para trás quando constatei que eram de fato, as iniciais dele.
Ai.
Meu. Deus. Conheci um psicopata.
Parei
um momento olhando para a tela sem entender como ele poderia ter me mandado um
e-mail, se nem ao menos o meu nome havia lhe dito.
Comecei
a sentir um sufocamento no peito e o medo que se espalhou pelo meu coração me
fez tremer. Quase exclui o e-mail sem ler. Quase.
Antes que pudesse racionalizar o meu temor, cliquei em “Abrir”.
De: N.H.
Assunto:
(Sem assunto)
Data: 12 de junho de 2014, 09:00.
Para: Katheriny Lowren Williams
Srta. Williams,
Espero ter sido suficientemente claro sobre minhas
expectativas e interesse. Estou certo de que podemos nos dar bem. Preciso de
uma resposta. Acabe com a minha ansiedade, acredite, eu não sei lidar muito bem
com isso. Me ligue, 754-3987.
NH.
Após
uns cinco minutos de pânico, que passei olhando para a tela, minha cabeça
estava zonza e eu sentia o estômago encolher. Como é que ele sabe o meu nome e o meu e-mail? Quase dois
milhões... Dois milhões e aquele
homem tinha me encontrado. Ele havia escrito no bilhete que íamos nos encontrar
em breve, mas achei que aquilo seria apenas um flerte. Eu não podia aceitar que
ele misteriosamente soubesse os meus dados.
E o
horário que ele mandou o e-mail. Era cedo demais quando ele soube quem eu era e
como me encontrar. O que aquilo tudo significava, eu não podia nem imaginar. As
piores ideias passaram por minha cabeça. Mulheres vítimas de abuso,
perseguições, sequestro... Fechei os olhos e tentei refrear os pensamentos e
acalmar os nervos. Ao abri-los já tinha pensado em um plano: eu iria procurar a
Beth Davis na divisão especializada em perseguidores de Los Angeles.
“Responder”.
De: Katheriny Lowren Williams
Assunto: FW: (Sem assunto)
Data: 6
de junho de 2014, 13:23.
Para: N.
H.
Sr. NH,
A palavra “espião” me ocorre assim que leio a sua
mensagem. Como sabe meu nome, e como encontrou meu e-mail?
PS.: não vou ligar para você. Não confio em
estranhos!
Cliquei
em “Enviar” e abri um breve sorriso de triunfo. Ele queria brincar? Eu também sabia
brincar. Mas um toque de alerta do e-mail desviou meu pensamento.
FALHA AO ENVIAR. ENDEREÇO DE E-MAIL NÃO EXISTE.
Droga!
Era
difícil imaginar como ele havia conseguido os meus dados, e até onde e o quê
ele sabia sobre mim. Poderia mentir, dizer que era casada, ou que era lésbica,
ou que tinha alguma doença contagiosa... Que
merda! Nada do que eu pensava daria certo sem que eu o confrontasse. Imaginei-o
me seguindo até em casa, ao trabalho, ao mercantil... Definitivamente precisava
de algo que o fizesse me esquecer, antes que seu interesse por mim se tornasse
obsessão, e eu fosse parar na Unidade de Vitimas Especiais sendo atendida pela
Olivia Benson.
Passei
um tempo tentando decifrar quem poderia ser aquele homem misterioso. Eu o vi.
Ele me beijou. No pescoço, mas beijou. Tinha tentado tirá-lo da mente e até
consegui, por um tempo. Mas então ele reaparece com essa súbita invasão de
privacidade... Era difícil pensar quando as paredes parecem menores,
metaforicamente falando.
Duas
batidas na porta e quase tive um enfarte.
- Kathy,
Charles do TI pediu para informá-la que todos os aparelhos estão instalados e
prontos na sala de reunião.
- Obrigada
Marta.
Organizei
alguns papeis para a semana seguinte, e revisei alguns materiais. Estava esforçando-me
ao máximo para esquecer qualquer coisa que começasse com N e terminasse em H,
ou algo assim, até quando um bipe no ipad
me avisou que o horário da reunião se aproximava. E após pegar tudo o que
precisaria, dei uma passada rápida no banheiro para retocar a maquiagem.
Trinta
minutos antes do início da reunião, eu já estava na sala acompanhada por Marta.
Aquele era um momento bem diferente do habitual na Redação. Andrea, secretária
do Sr. Rowling, nos informou que viriam três pessoas: um empresário – que deveria
ser o tal amigo do meu chefe -, seu assistente pessoal, e sua secretária. E,
enquanto terminávamos os últimos detalhes da organização do espaço, Louise
Armstrong, Diretora de Criativa entrou na sala. Ela era nova na redação, mas
era muito esforçada e se dedicava muito ao trabalho. Tudo o que dizia respeito à
imagem e designe ganhava vida em suas mãos.
-
Boa tarde Marta! Oi Katheriny...
- Oi
Louise, como vai?
Nos cumprimentamos
brevemente enquanto o restante da equipe chegava para a reunião, seguidos por
Robert Smith, Diretor de Marketing. Ele não era muito de fazer amigos na redação.
E também era um daqueles que faziam questão de me tratar como ninguém. Até
aquele momento, dois anos depois de eu estar no cargo, ainda tinha sérias dúvidas
se ele não tinha vontade de me colocar para servir seu café, só para satisfazer
seu ego.
Caminhei
até um canto da sala, onde Marta havia colocado uma bandeja com uma jarra de
água e algumas taças. As imagens mais frustrantes que eu poderia ter antes de
uma reunião estavam povoando a minha mente naquela hora. Coloquei um pouco de
água para mim e conferi o relógio. Faltavam três minutos e meu maior desejo era
que aquilo acabasse logo.
Após
o primeiro gole, quase engasguei com a expressão no rosto de Marta quando
ouvimos um burburinho na antessala. Pigarreando algumas vezes olhei para Marta
procurando respostas.
- Chegaram.
– Disse ela sem tirar os olhos da porta.
Tomando
mais um gole para acalmar a garganta estiquei a mão para apoiar a taça sobre a
mesa, enquanto acompanhava o olhar de Marta até chegar à porta da antessala.
Havia dois homens de paletó conversando com o Sr. Rowling. Quando eles se
viraram para entrar, o meu corpo amoleceu e por um vacilo a taça escorregou
pela minha mão e se espedaçou ao cair no chão.
Era
ele. NH havia me encontrado.
__________________________________________
-
Desculpe.
Não acredito! Droga!
-
Andrea ligue para a copa, peça a alguém para vi limpar a sala.
O
Sr. Rowling que já havia entrado no ambiente, retornou e pediu aos homens que
esperassem um instante.
Abaixei-me
rapidamente fingindo apanhar alguns cacos de vidro. E Marta se abaixou para
fazer o mesmo.
-
Está tudo bem Kathy, você se machucou? – Louise surgiu atrás de mim se
agachando também.
-
Está sim. Eu só vacilei na hora de colocar a taça na mesa.
O que ele está fazendo aqui?
Levantei
com alguns cacos de vidro na mão, enquanto a equipe da limpeza se apressava em
juntar os cacos que deixei, e notei quando o Sr. Rowling me olhou de soslaio.
Olhei para Marta desejando que ela pudesse me representar naquele instante. Katheriny CALMA! Fechei os olhos e
respirando fundo algumas vezes mentalizei que se eu fingisse naturalidade e desse
uma resposta confiante ele iria cansar de mim e pararia de me perseguir. Eu
seria o brinquedo que perdeu a graça. Ou esperava ser.
Dei
alguns passos na direção da porta, ainda sem acreditar no que meus olhos viam. Naturalidade, resposta confiante...
Naturalidade...
-
Por aqui Sr. Helstin.
O Sr.
Rowling falou trazendo-o para a sala, no momento em que a equipe concluiu a
limpeza do pequeno acidente.
...resposta confiante...
-
Boa tarde Sr. Helstin, é um prazer recebê-lo aqui. – Ouvi algumas pessoas
cumprimentando-o.
-
Estes são: Jéssica Taub e Thomas Miler. – ele disse.
Nem
acreditava que estava ouvindo aquela voz novamente. Forte, confiante e grave,
muito grave. Com mais um passo, só restava que eu o cumprimentasse. E por algum
motivo bizarro, todos estavam nos olhando esperando por isso. Mas só quando
nossos olhos se encontraram tive a consciência de que alguém estava jogando com
a minha vida. Ele estava tão surpreso quanto eu. Na verdade, a expressão em sua
testa demonstrava o quanto ele parecia não acreditar no que seus olhos viam.
Dois milhões de pessoas e nós nos esbarramos duas vezes em menos de vinte e
quatro horas.
-
Senhor... – Falei para me liberar daquela troca de olhares que não nos trariam
as respostas que procurávamos.
-
Helstin. Noah Helstin.
Nossos
olhos incrédulos nos examinavam, aquilo estava muito estranho para começo de
conversa. Tocamos as mãos, e ele continuou:
-
Muito prazer.
- Seja
bem vindo, Sr. Helstin. – Falei e forcei um sorriso, enquanto continuávamos de
mãos dadas.
-
Obrigado, Srta. Williams.
Sua
voz não condizia com seu olhar. E eu tinha certeza de que também não estava me
saindo melhor do que ele. Imagens da noite anterior, de quando estive naqueles
braços, girando, livre, povoaram a minha mente.
Louise
soltou um pigarro breve e eu puxei minha mão como se uma corrente elétrica me
repelisse dele. Quase uma ação exagerada demais. Bom, quando senti os olhares
de todos, eu percebi que minha reação tinha sido sim, exagerada demais.
Aquele
era um teste e eu precisava passar. Naturalidade,
resposta confiante... Depois de cumprimentar a Jéssica e o Thomas, fui até
o notebook que estava conectado à televisão de sessenta polegadas. Observei que
ainda restavam quatro cadeiras vazias, e a minha, com certeza, seria a que
estava o mais distante possível da cadeira que ele ocupava.
- Senhoras
e senhores, é com enorme prazer que os recebemos aqui. Sejam bem-vindos à Contemporary World.
O
Sr. Rowling Iniciou a sua apresentação, enquanto eu o auxiliava com a parte
digital. Assumi o posto de Charlie para sair do campo de visão do Helstin. Precisava
recompor minha sanidade. Apesar de ter me saído razoavelmente bem ao encontra-lo,
eu estava com os nervos à flor da pele.
- Nossa
empresa tem permanecido como líder de mercado e este ranking deve-se ao
trabalho de grandes profissionais que compõem a nossa equipe. Para pontuar
alguns de nossos trabalhos de maior repercussão elaboramos esta rápida
apresentação.
Durante
a apresentação consegui controlar bem a ansiedade que a presença dele me
conferia. Na verdade, evitei olhar para o Sr. Helstin. Seu olhar me deixava
nervosa de uma forma bem peculiar. Meu coração, até aquele instante, ainda não
havia se decido se ele era o mocinho ou o bandido.
E
ainda havia mais um agravante, ele estava mais impecável do que na noite
anterior. Não pensei que ele pudesse ficar ainda mais lindo, mas ele havia
alcançado essa proeza. Seu terno possivelmente Armany, era preto, a camisa cinza
claro e gravata cinza-chumbo. Ele estava tão elegante que me deixava sufocada,
ele simplesmente roubaria a cena em qualquer entrega do Oscar.
-
Enfim, esperamos que nossos serviços atendam às suas expectativas. – O Sr.
Rowling concluiu sua apresentação e eu desliguei o monitor.
- Então,
estimados colegas, – ele continuou: - Sei que tudo isso está um pouco fora do
habitual, mas logo todos entenderão. Como alguns já sabem, o Helstin é dono de
uma rede de joalheiras com filiais em vários estados, mas eu quero dizer que
Noah Helstin é um amigo a quem tenho muita estima. Eu o conheci ha alguns anos
quando ele passou doze meses estagiando conosco, no setor administrativo. Saído
daqui ele concluiu os estudos e passou a administrar a empresa da família.
Procurando
mentalmente uma cadeira para me sentar, desejava poder ficar no cantinho da
sala, como estava. Com alguns passos, dirigi-me para uma cadeira vazia que
havia próximo a Cameron, que estava a dois lugares depois do Helstin.
- Srta.
Williams. – ele me chamou e eu senti as pontas dos dedos gelarem. – Pode sentar
aqui.
Ele
havia puxado uma cadeira vazia ao seu lado, oferecendo-a a mim.
-
Ham... Tudo bem...
Sentei
elegantemente na cadeira que ele me ofereceu. Mas a elegância estava do pescoço
para baixo. Minhas bochechas queimavam de tanto rubor, só de sentir os olhares
ansiosos de todos sobre mim.
-
Dessa forma, hoje nossa revista firmará uma parceria com a rede de joalherias.
– Meu chefe falou. – Quer falar um pouco mais sobre ela Helstin?
-
Com todo prazer. Bom, é... A Joalheria Helstin foi fundada pelo avô em 1965.
Foi repassada ao meu pai e meu tio duas décadas depois, e finalmente está sob
minha direção nos últimos cinco anos. O mais impressionante é que desde o
começo da minha administração a empresa abriu mais filiais do que em toda a sua
história. Mas isso não se deve somente a mim. Ter uma visão ampla, trazer o
passado, saber resgatar as origens para criar um futuro promissor tem sido o
nosso ponto de partida, desde o começo da gestão. Este ano comemoramos os
cinquenta anos da Joalheria Helstin. Há alguns dias consegui comprar o prédio
onde a Joalheria abriu suas portas na década de sessenta, e imaginem só a
surpresa quando encontramos a caixa com algumas joias da primeira coleção que
foram criadas e montadas pelo meu avô.
Algumas
pessoas arregalaram os olhos, inclusive eu.
- A caixa
estava perdida e sobre ela só havia uma menção em testamento.
Ele
baixou a cabeça e sorriu. Seus olhos brilhavam enquanto ele falava. Aquilo era
claramente algo muito importante para ele.
- A
primeira joia que meu avô vendeu foi o anel de noivado para minha avó.
Troquei
olhares com Louise sem entender aquela nova informação. E percebi que as outras
pessoas da sala também não entenderam. Então sorrindo, Helstin nos explicou.
-
Meus avós se conheceram no dia que minha avó foi com o seu namorado comprar um
anel de noivado. Eles sempre disseram que tinha sido amor à primeira vista. Meio
piegas eu sei.
Algumas
risadas ressoaram pelo ambiente. Meu coração acelerou um pouquinho enquanto eu
o ouvia contar aquele fato um pouco sem jeito, embora orgulhoso da história da
sua família. Ele estava tão lindo sentado ao meu lado, com o olhar brilhando e
o coração cheio de histórias para contar, que eu quase esqueci que ele tinha
investigado minha vida sem minha autorização.
- Resumindo
minha fala, nós decidimos contar essa história para os nova-yorquinos. Nós
estamos à procura de antigos clientes ou seus familiares, para tentar
reconstruir a primeira loja. Já estamos fabricando cópias idênticas às joias
originais do meu avô e pretendemos fazer disso um grande marco na história da
empresa. E por isso estamos aqui.
Olhei
para o meu chefe e ele parecia orgulhoso ao ouvi-lo falar.
- Eu
quero dar exclusividade a vocês para que reconstruam a nossa história.
Alguns
murmúrios e palmas soaram pela sala e todos exibiram seus melhores sorrisos. Aquela
era uma grande notícia para todos. O Sr. Rowling exibia uma face um pouco
avermelhada e eu quase poderia descrever o quando ele parecia animado. Além de
carregar sentimento, esse tipo de matéria é sempre presada pelos leitores. De
tal modo que as edições que tratam sobre a história de uma empresa, um local,
alguma personalidade que se destacou no cenário da Big Apple, batiam sempre
recorde de vendas. E eu podia afirmar com toda certeza, de a história daquela
joalheria seria a grande matéria do ano.
-
Bom, ficamos muito felizes com essa notícia, Sr. Helstin. – Sr. Smith falou
pela primeira vez na reunião. – Tenha certeza que será um grande sucesso.
Minha
mente começou a vagar enquanto eu vazia anotações gerais sobre a reunião em
minha agenda. Foi impossível não escrever as ideias que fervilhavam em minha
mente. Comecei a fazer um esboço de como seria retratada aquela história. Uma
edição para cada mês até chegar ao mês comemorativo dos cinquenta anos. Pedir relatos dos clientes, imagens das
pessoas usando as primeiras joias, reconstruir a história dos avós do Helstin,
contar sobre a caixa escondida no prédio... Ideias não iam faltar.
Enquanto
a negociação prosseguia, senti algumas vezes o olhar penetrante do Helstin em
mim. Eu só o observava de soslaio, quando tinha certeza de que nossos olhos não
poderiam se cruzar. Por que cada que vez que isso acontecia, meu corpo aquecia
e minhas mãos ficavam trêmulas, e ele ficava um pouco agitado. Para qualquer
observador dentro daquela sala, ficaria óbvio que nós nos conhecíamos, e o
pior, que havia atração entre nós, pois, como extremos positivo e negativo, meu
corpo era sugado por ele, eu tinha quase certeza que de alguma forma era recíproco.
-
Tenho certeza de que podemos fechar uma excelente parceria. Para os dois lados.
– Comentou o Sr. Rowling.
-
Minha equipe entrará em contato para repassar o que for necessário.
- Assim
que tivermos uma proposta de apresentação concreta, entraremos em contato.
- Estarei
aguardando.
Cameron
a Redatora-Chefe começou a falar sobre alguns índices de popularidade das edições
com histórias similares às que faríamos.
- O
que você tanto escreve? - Sua voz soou como um sussurro para não interromper a
fala da redatora.
-
Coisas.
Falei
e tive sérias dúvidas se tinha saído voz. Tentei manter uma postura atenta à
Cameron e completamente profissional, mas eu só pensava no diálogo de sussurros
que estávamos tendo.
-
Deixa eu ver.
- Não.
– Eu disse, mas foi em vão. Talvez minha voz não tivesse saído da garganta como
havia imaginado antes.
Sua
mão discretamente puxou minha agenda do meio dos meus braços cruzados sobre a
mesa, o que garantiu que sua ação não capturasse a atenção de ninguém. Como eu
não poderia brigar com ele na frente de todos e tomar minha agenda, me resignei
a esperar o que sairia de dentro daquela caixinha de surpresas chamada Noah
Helstin.
Alguns
minutos depois ele pousou a agenda fichada em meu colo e sorriu ao tocar de
leve meu braço. Eu o observava com o canto do olho, e ele sabia perfeitamente
disso. Ele também deveria saber que sentado ao meu lado, utilizando-se de sua
postura altamente profissional ele estava absurdamente lindo. Seria pecado não
reconhecer.
Mocinho ou bandido?
Travando
uma luta contra meus instintos, tentei não esquecer que ele investigou minha
vida e descobriu meus dados. Droga!
Aquilo não era um começo muito aceitável. Mas, após vários pensamentos
negativos, me permiti imaginar como seria encontrá-lo novamente. E poxa, eu
iria enlouquecer se continuasse pensando nisso.
-
Srta. Williams neste cartão ha meu número particular. Você pode me ligar a
qualquer hora, sempre que precisar.
Minha
mente não sabia se eu devia ou não receber aquele cartão. Meu coração palpitava
na garganta e engoli seco algumas vezes. Descruzei os dedos e antes de
recebê-lo, notei que o Sr. Smith e o Sr. Rowling trocaram olhares e depois me
olharam pedindo explicações, o que me fez recuar a mão e desistir de pegá-lo.
- Caso
seja necessário, podemos ligar para a sua empresa, e falar com a sua secretária.
Não vou incomodá-lo Sr. Helstin. O senhor deve ser muito ocupado. – Ironizei um
pouco, me arrependendo imediatamente. Os olhares sobre mim quase me fizeram
surtar.
- Pode
me ligar Srta. Williams.
Então
ele colocou o cartão na minha mão e levantou. O Sr. Rowling veio ao seu encontro
e o cumprimentou de maneira animada enquanto o Sr. Smith dizia algumas palavras
e pediu licença antes de se retirar da sala. Comecei a caminhar até a porta sentindo aquele
cartão aquecer a minha mão e as minhas dúvidas. Precisava respirar depois de
toda aquela tensão, e quem sabe até fugir dele novamente. Fugir de toda aquela
loucura. Mas antes de passar pela porta, Cameron me parou.
-
Você não vai cumprimentar o cliente?
-
Sim. Só vim... – Olhei ao redor procurando alguma desculpa. – Tentar acompanhar
o Sr. Smith pra falar com ele.
-
Hunrum...
-
Espere um minuto Srta. Williams, por favor.
Virei-me
para o Helstin, quando escutei o seu chamado e o vi dizer algo para o Thomas. A
imagem seguinte foi uma expressão de surpresa no rosto da secretária dele.
- Sim,
Sr. Helstin. – Ela assentiu e me olhou antes de sair acompanhada por Thomas.
Poderia
apostar que ela já tinha visto aquela cena muitas e muitas vezes. Olhei para
Cameron e a vi me olhar ironicamente com uma sobrancelha erguida, minha ansiedade
se transformou em raiva em uma fração de segundo. Minha vontade era estapear a
cara do Helstin. E depois beijá-la para passar a dor... Merda! Estou ferrada!
- Vamos
até a minha sala Sr. Helstin. Marta... Organize o material da reunião e o
coloque na pasta do Sr. Helstin, por favor. Estarei na minha sala.
Antes
de sair acenei para o Sr. Rowling, que falava algo para Andreia, mas, que
acompanhava todas as minhas ações, como uma águia. Olhei para Cameron, que
estava perdida olhando o Helstin dos pés a cabeça, que para a sua falta de
sorte, só tinha olhos para mim, e acenei brevemente, quando na verdade queria
fazer uma dancinha da vitória.
Saímos
da sala de reuniões e seguimos pelo corredor até chegar à ampla sala da Redação.
O prédio não era muito grande, mas devido ao número de empresas que o sediavam,
sempre havia um quantidade razoável de pessoas andando pelos corredores, salas,
escadas e elevadores. E quando nós passamos, observei que algumas mulheres no
caminho quase param de respirar quando o viram. Era impossível não notar o rosto
delas se iluminando e corando ao ver aquele homem deslumbrante passar.
Simplesmente não era possível não notar aquele distinto senhor andando. Ele era
elegante, dono de si, e um pouco exibido demais. Com certeza conhecia o seu potencial
e sabia como usá-lo para impressionar. Para minha sorte ou azar, o alvo era eu.
Passamos
pelas portas do Sr. Rowling, da Cameron, do Sr. Smith, até enfim chegarmos à
minha sala, que era ao lado da sala de Louise. Assim que entramos, fechei a
porta, sentindo um arrepio só de imaginar o que as pessoas poderiam dizer
naquele instante, e claro, por estar sozinha com ele.
- Eu
não diria que destino é o melhor termo. – Ele disse.
-
Onde você quer chegar?
Disparei
sem nem pensar direito. Minha cabeça estava um pouco zonza e tudo o que eu
queria era que ele saísse da minha sala. Minha respiração estava acelerada como
o meu pulso, e quase posso afirmar que tremi um pouco por tentar ser hostil com
ele.
- O
que eu preciso fazer pra te convencer que dessa acusação eu sou inocente?
-
Arrume um bom advogado. - Cruzei os braços impaciente. – Por que você saiu
pesquisando a minha vida? Como é que você entra assim na vida de alguém
Helstin? Eu não imaginava que aquele homem de ontem seria capaz de uma atitude
como essa...
- Eu
precisava chegar até você, Katheriny.
-
Como você descobriu meus dados, Helstin?
- Noah.
Me chame assim quando estivermos a sós.
-
Helstin, eu não quero estar a sós com você, aliás, eu não quero nada com você a
não ser trabalho. Por que enfim não tenho como fugir disso. Eu não quero ninguém
investigando minha vida. Se você não sabia disso agora sabe.
- Eu
sempre soube que você seria difícil, Katheriny. Então eu procurei uma forma de
me aproximar de você. Mas eu não quero que você me odeie.
-
Mas eu não tenho o mesmo interesse que você.
A
pontada de dor que surgiu na minha cabeça, já deixava evidente o quanto eu
estava esgotada para aquela sexta-feira. Estava com medo que alguém aparecesse,
ou estivesse ouvindo atrás da porta, e ainda mais, esperava sinceramente não me
arrepender do que estava dizendo.
-
Katheriny eu fiz um convite e você me deve uma resposta. Uma resposta sincera.
Não isso que você diz, tentando me convencer que não quer o mesmo que eu.
Ele
deu um passo na minha direção.
-
Noah, eu não sei de onde você tirou que investigando minha vida conseguiria me
conquistar... Por acaso eu pareço uma pessoa que gosta de ser perseguida ou
algo assim?
Sua
risada preencheu a sala, e esvaio um pouco da raiva que eu sentia. E isso não
era bom.
- Olha,
Helstin, preciso que você entenda que dentro do meu ambiente de trabalho você é
um completo estranho. Que na verdade você é, mas aqui é mais ainda. Entendeu?
Outra
risada dele e estava quase sorrindo.
-
Não se preocupe com isso. Você não é obrigada a dar satisfação da sua vida
pessoal a eles. – Ele deu outro passo em direção a mim, e eu recuei, levantando
o dedo indicador, à altura de seu peito.
- É
aí que você se engana. Eu sou sim. E eu vou dizer mais vez: eu não vou sair com
você.
Minha
voz perdeu força no fim da frase. E ele deitou a cabeça de lado. E um calor
subiu até minha garganta.
- Você
não está convicta, minha cara. Sinto muito, mas você precisa me dar uma chance...
Ele ia me enlouquecer...
- Eu
sei que você sente o mesmo que eu, Srta. Williams. – Ele se pôs a menos de um
metro do meu rosto. – E eu vou fazer você mudar de ideia. Não entro em um jogo
para perder Katheriny – sua mão tocou o meu rosto e eu quase desmanchei.
Aquele
toque de novo... Sua mão estava quente e era tão prazeroso que senti minha
raiva se esvaindo outra vez. Fechei os olhos por um momento e quando os reabri,
notei seus lábios entreabertos e o barulhinho da sua respiração. Ele estava
ferrado tanto quanto eu. Por mais que não estivesse sorrindo, havia um
divertimento nítido no seu olhar, que parecia querer me dizer algo. Quase gemi
quando seu dedo indicador tocou levemente o meu lábio inferior. Naquele
instante, meu coração suplicava que eu saísse três, seis ou nove vezes com ele.
Continuei olhando-o por um momento, sem que nada nos abalasse, até que um
lampejo de razão atravessou o meu peito. Ele era um cliente da revista, e eu
não queria ficar desempregada.
-
Isso não vai da certo. Especialmente depois que você colocou os pés aqui.
-
Mas eu não posso e nem vou voltar atrás.
Mesmo
abalada, consegui reunir todas as forças que restavam e me afastei do seu toque
tentador. O que o deixou visivelmente desapontado. Mas era o meu dever como
profissional sufocar os sentimentos e fazer aquilo.
-
Aqui não é hora e nem lugar para isso Helstin.
-
Saia comigo Katheriny. Vamos conversar.
-
Nossa conversa será em 15 dias Helstin. Aqui. Sobre as edições
Usei
o tom de voz mais convicto que pude. Sentia-me atraída por ele, mas não podia
ser levada por ele e para ele. Eu nem
o conhecia. Não fazia ideia de quem era ele sem toda aquela postura de galã.
Ele estava se mostrando um fardo pesado. Lindo, mas pesado. Cabia a mim tirar
qualquer esperança dele. Nem de longe eu era uma das mulheres influenciáveis que
ele deveria estar acostumado. Ele apenas pensa
que sou.
- Ok,
Srta. Williams. Vou deixar você trabalhar – ele se virou e andou até a porta. Mas
antes de girar a maçaneta, ele me olhou por cima do ombro. – Katheriny – falou e
fez um aceno com a cabeça. E antes que eu pudesse responder ele abriu a porta e
saiu.
Fiquei
um tempo olhando para a porta fechada.
Passaram-se
cinco ou dez minutos, não sei ao certo. Uma parte de mim dizia que aquele seria
o adeus que eu precisava. A outra, mais otimista, desejava que ele voltasse e
insistisse um pouco mais. Eu não pensava que ele se convenceria tão fácil. Mas era
o melhor. Deveria ser.
Eu só
temia que tivesse deixado a felicidade escorrer entre os dedos. Não era a primeira vez que tomava a decisão de
deixar um relacionamento de lado por temer o que viria a seguir. Mas eu tinha
meus motivos. Na verdade, tinha todos os motivos para evitar esse tipo de
relacionamento pelo resto da vida. Embora meu coração já estivesse cansado
desta punição.
Ele
disse que não entrava em um jogo para perder. Bom, aquilo não era um jogo, mas
se fosse, ele com certeza teria perdido. E
eu também...
Duas
batidas na porta e o Sr. Rowling entrou em minha sala.
-
Com licença Katheriny tem um minuto?
- Claro
Sr. Rowling, sente-se.
Fui
até minha cadeira e esperei enquanto ele sentava à minha frente e depois fiz o
mesmo. Hugh Rowling era um homem bonito apesar da idade. Mesmo sendo bastante
criterioso e metódico em alguns momentos, ele era a melhor pessoa que eu
poderia querer como chefe. Sempre me dava bons conselhos profissionais e até pessoais.
Não sabia ao certo quando surgira aquele apresso, mas eu gostava. Ele era a
pessoa mais próxima de um familiar que eu tinha em Manhattan, depois de Laura.
-
Katheriny, desde que a conheci, ainda não a tinha visto em uma situação tão
embaraçosa como a de hoje. Está acontecendo alguma coisa que eu deva saber?
-
Não Sr. Rowling, de modo algum.
Senti
minhas bochechas corarem e organizei algumas canetas sobre a mesa, tentando
disfarçar o desconforto.
- Você
sabe que pode confiar em mim, não sabe? – Confirmei com a cabeça. – Não sei se
é o caso, mas... você sabe que como o seu chefe eu não posso quebrar as regras,
mas posso fingir não ter visto o que eu vi. Vocês já se conhecem, tudo bem. Mas
preciso ter certeza de que as normas da empresa estão bem claras para os dois.
-
Claro que sim, Sr. Rowling. Não se preocupe.
- Eu
o encontrei saindo da sua sala agora a pouco. Ele me pediu que você assumisse o
projeto dele.
- O
quê? - Meus olhos estavam arregalados e meu coração na garganta. – Eu não
posso... Minha função é só organizar, não é criar nada...
-
Ele disse que confia em você e no seu trabalho. Katheriny eu atendi ao pedido
de um amigo. E ele me disse que você saberia por que.
-
Mas eu não... – Comecei a dizer e parei. Minha mente clareou. Eram as anotações
na minha agenda. Ele havia gostado. – Ah, talvez ele tenha gostado de uma
proposta que eu esbocei no papel, mas não foi nada demais. Eu posso entregar à
Louise e à Cameron, e elas assumem.
- Não.
Precisa ser você.
Estava
mais nervosa com seu olhar de compaixão do que com os olhares inquisidores que
vi durante a reunião. Não podia contar a ele em quais circunstâncias havia
conhecido o Helstin.
-
Certo Srta. Williams. Eu também confio no seu trabalho e principalmente na sua
postura profissional. Se precisar de alguma coisa para o projeto, me comunique.
E assim que você tiver um esboço me avise. Irei conversar com o restante da
equipe. Quando você estagiou aqui, impressionou a todos nós. Você é capaz. Mas
não quero que você carregue tudo sozinha. Estarei à disposição.
Ele
disse e saiu. Mais uma vez, fiquei vislumbrando o vácuo.
By Natasha Alves
Gostei demais. Principalmente quando a Katherine o rejeita. Gosto desse jogo de brigas e sedução. Hoje li o primeiro e o segundo capítulo. E vou lê o terceiro.
ResponderExcluirEu também gosto... Até por que está meio chato esse negócio de todas as personagens femininas sempre aceitarem o cara bonitão logo de cara kkkkk... Não é por que é bonitão que nós temos que ficar nos rastejando, né?! kkk Que bom, leia! leia! leia! E faça uma escritora mais feliz kkk ;)
ExcluirAmigaaaa... Vc vai me deixar maluca.... É maravilhoso.. Mas vou logo dizendo que sou do tipo de leitora que quando começa já quer devorar toda a obra, portanto... Escreva muito mais... Amo os encontros casuais, e como eles tem q disfarçar o que sentem na frente dos outros... Gosto quando eles ficam provocando um ao outro... Muito bom... Quero mais... Em breve leio o terceiro, pra te dar tempo pra escrever o quarto, o quinto e os demais... Parabéns.... Estou amando....
ResponderExcluirQuerida obrigada por acompanhar... Pois é mulher, estou adorando escrever este livro, e acho que todos os que virão depois dele kkkk... Nasci para ser escritora e fui obrigada a trabalhar, amiga! kkk Beijoooss
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