Queridos(as),
Hoje trago para vocês o primeiro capítulo do livro que estou escrevendo. Confesso que estou com o coração cheio de ansiedade e espero muito que todos gostem dessa história. Tenho me dedicado a vários meses, e só hoje decidi que não farei mais nenhuma alteração contextual. Lembrando que: possivelmente vocês encontraram algum erro gramatical. Sorry queridos(as), ainda não tive retorno da minha revisora. De todo modo, espero tocar em seus corações, tanto quanto essa história vem tocando o meu, diariamente. Se no fim da leitura vocês sentirem vontade de comentar, eu digo desde já que ficarei imensamente feliz em poder responder ou escutar a sua opinião. Ainda não me decidi sobre o título da obra, mas a priori, "Fascinante" é o nome que atende às minhas expectativas.
Com carinho - e ansiedade,
Natasha.
Um
Naquela
manhã o mundo conspirava para que eu tivesse um bom dia.
Estiquei
o braço e peguei o celular que fazia um barulho delicadamente irritante e uma
pontada de arrependimento surgiu em minha mente: ainda era sexta feira e eu
tinha que trabalhar.
Passei
a noite tão agitada, sonhando com imagens estranhas e escuras, que tinha sérias
dúvidas se dormi de verdade. Tentei organizar as ideias, e lembrei-me de
sorrisos sensuais, e olhos muito, muito penetrantes, de um azul imenso. E que
me deixaram (propositalmente) sem ar. Minha boca ficou seca e meu coração
disparou. Preciso me controlar... Preciso
me controlar! Repetia várias vezes para meu subconsciente. Ele era um risco
que eu não estava disposta a correr.
Sentei-me
na cama, a cabeça ainda meio zonza por todos os acontecimentos da noite
anterior, sentindo o meu rosto arder só de lembrar-me da música, da dança, e do
meu estranho misterioso... Como
poderia resistir àquele chamado? A ele?
Eu nem sabia o seu nome, e não fazia ideia de como e onde encontrá-lo. Mas,
estava quase certa de que ele iria me encontrar.
Levantei
devagar esticando os braços e as pernas, imediatamente me arrependendo. Deveria
ser feriado. Feriado em prol de noites quentes e de propostas loucas! Sorrindo
ridiculamente, desfrutei do doce prazer de acordar levemente dolorida e com a
pele mais sensível do que o normal.
Meu
estranho me tocou.
Senti
uma desconfortável pontada na cabeça, e uma frieza nas mãos repentina. Uma
lembrança invadiu meus pensamentos. Droga,
droga, droga! Atravessei o quarto correndo me sentindo culpada por ter esquecido.
Encontrei minha saia ainda jogada no chão do cômodo, enfiei a mão no bolso
traseiro e peguei o bilhete que o deus do mistério havia colocado lá. E que eu havia esquecido. Acusou meu
coração, que já estava na garganta. Abri com cuidado e fiquei intrigada com
aquelas palavras:
Nos
encontraremos em breve!
N.H.
___________________________________
A
imagem que via no espelho me agradava. Havia escolhido uma blusinha preta e uma
saia de couro preto, além das minhas botas vermelhas de salto agulha, que eu amava.
Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo simples, pois não aguentaria o calor
do verão de Nova York por mais de duas horas em uma boate fechada, e após
passar um batom pink, me sentia pronta.
Ouvia
Laura gritar por mim quando finalmente resolvi que aquela noite seria divertida,
eu daria o meu melhor por isso. Peguei minha bolsa e rapidamente conferi se
tinha tudo o que precisava. Desci as escadas apressada e quase torci o
tornozelo nos últimos degraus. Aquilo
não estava começando bem para a “Noite das
Garotas”.
- Não
acha que exageramos dessa vez? – Perguntei sentando-me no banco traseiro da
limusine que nós alugamos.
-
Hoje é “a” noite Katheriny. Não merecemos nada menos do que isso. Agora vamos
que a noite promete, estou sentindo! – Laura Taylor, minha extravagante colega
de apartamento, era, com certeza, a melhor e a mais fiel amiga que uma pessoa
poderia ter.
Conheci
Laura há seis anos quando entramos na New
York University. Ela era minha colega de aula e logo nos tornamos amigas o
suficiente para dividirmos um apartamento. O Curso de Comunicação e Marketing
terminou e continuamos morando juntas, já que ela também viera de outro estado.
Quando conseguimos nos firmar profissionalmente, decidimos que era hora de
procurar um apartamento maior, mais confortável e algo mais parecido com um
lar, foi quando nos mudamos para o West Village.
Aquela
noite seria diferente das muitas noites que preenchiam os meus dias. O simples
fato de sair do nosso lindo bairro, já me fazia ter certeza disso. West Village
sempre nos pareceu o lugar perfeito. Um bairro tipicamente europeu, com suas
lindas construções e locais atrativos, suas ruas arborizadas repletas de
vitrines, bares e restaurantes, tornavam aquele, um lugar único no meio da
alucinante “cidade que nunca dorme”. E quanto mais o automóvel avançava pelas
ruas movimentadas de Manhattan, mais as luzes se intensificavam, fazendo com
que a vibração da cidade reverberasse em minhas veias. Nova York era a medida
daquilo que eu precisava, de modo que até
o cheiro do asfalto, pneu queimado e a grandiosidade dos prédios simplesmente
me completavam.
- Consegui
entradas para uma casa noturna inaugurada recentemente... Na Quinta A-ve-ni-da
– Laura falou compassadamente.
- Na
Quinta Avenida? – Ele confirmou com a cabeça várias vezes, e meu sorriso
encerrou a frase.
Olhei
pela janela mais uma vez deixando-me levar pela adrenalina que se espalhava,
sorrateiramente, pelo meu sangue. A Fifth
Avenue é o local mais rico de Manhattan. Essa avenida corta a ilha inteira
e é onde Nova York expõe toda a sua riqueza e poder. Nela estão localizadas as
mansões, apartamentos e as lojas mais caras do mundo, sem contar o Central Park, o Empire State Building, o Rockefeller
Center, a Catedral de Saint Patrick,
o Metropolitan Museum e mais outros
pontos turísticos da bela cidade. Dessa forma, passou a ser conhecida também como:
Avenida dos Milionários. E, graças à Laura, era para lá que estávamos indo.
- O
lugar ideal para nos distrairmos depois de uma semana como essa. E além do
mais, é na Quinta Avenida que nós podemos encontrar alguém que nos valorize
como merecemos. – Ela juntou o polegar e o indicador fazendo movimentos
rápidos.
-
Laura Taylor... Sua interesseira.
-
Chegamos! – ela gritou, quase pulando dentro da limusine e batendo palmas como
uma adolescente cheia de hormônios, que não
era.
Na
calçada, uma fila relativamente grande de pessoas nos observava enquanto descíamos
glamourosamente de nossa limusine. A fachada era bem discreta e sofisticada, e em
tons de preto e vermelho eu lia: Fly
Night. Com certeza se não houvesse aquela fila, seguranças fortões na porta
e o letreiro estivesse apagado, aquele lugar passaria despercebido para a
maioria das pessoas. E por isso, já sentia uma simpatia indescritível e algo
dentro de mim prometia fazer daquele, um lugar especial.
Laura
entregou nossos convites ao segurança, que rapidinho nos passou na frente das
outras pessoas abrindo uma espécie de cabo de isolamento vermelho, semelhante
aos usados na fila da entrada do Oscar. Seguimos por um corredor pouco
iluminado e estreito ouvido as reclamações de quem estava na fila, se
misturando às batidas da música lá dentro.
-
Nossa!
Laura
parou bruscamente e me fazendo trombar com ela e quase cair para trás.
-
Ai! O que foi? – Verifiquei rapidamente se alguém tinha visto o nosso pequeno
acidente. – Ah... Entendi – respondi à minha própria pergunta meio paralisada
ao ver o interior da boate.
O
som de Nico & Viniz cantando Am I
Wrong preenchia o ambiente e todo o meu corpo de uma forma que tudo parecia
se encaixar. Eu adorava aquela música. E logicamente, aquele seria um lugar especial.
O
espaço era imenso e redondo. Nada compatível com a minúscula entrada. Ao lado
direito ficava o bar com banquinhos altos ao seu redor, onde algumas pessoas
bebiam e conversavam alegremente esperando suas bebidas serem servidas por
Barmans de outro mundo, em todos os
aspectos. Ao lado esquerdo começava a fila de mesas e sofás em “U”, e acima de
cada mesa havia um lustre moderno, deixando o ambiente bem requintado. Os sofás
eram pretos, e as mesas traziam um tom de marrom bem escuro. As paredes eram de
um vermelho forte. Um vermelho sexy, eu diria. Mais a frente havia uma escada
riquíssima em tons de dourado e com carpetes vermelhos por todos os degraus,
que levava ao segundo andar, onde aparentemente havia algumas mesas, mas estas
eram mais reservadas e contavam com a visão geral de todo o local. Em resumo: Área Vip.
Ao
lado da escada ficavam os banheiros e as saídas de emergência, que eram bem
maiores que a entrada. No centro, pessoas dançavam em cima de um piso de vidro,
enquanto eram iluminadas por uma aquarela que vinha do globo enorme que pairava
acima de suas cabeças. Logo a frente havia também um palco não muito alto, com
vários instrumentos musicais desligados.
-
Adorei este lugar, vem Kathy! Vamos nos sentar ali.
Laura
apontou para uma mesa próxima ao bar, para onde seguimos. E quando nos
acomodamos no espaçoso e confortável sofá, o celular de dela tocou.
-
Deve ser a Mia.
-
Você a convidou?
-
Sim, e a Clair também.
Sentia-me
um pouco mais animada de sermos as quatro. Aquele lugar era maravilhoso e fazia
tempo que não nos reuníamos para nos divertir. O trabalho às vezes me sufocava,
mas era o preço para manter o padrão de vida que eu quis desde que decidi mudar
de vida.
- Elas
vão amar isso aqui. – Ela se esforçava para falar acima da música que estava
mais alta.
- E
vão mesmo. Principalmente a Clair...
Clair
McCollen era a mais nova de nós quatro. Apesar de sua altura e seu corpo
curvilíneo, a mente dela parecia com a de uma adolescente, e não de uma mulher
de 22 anos. Não tinha muitos planos para o futuro, mas sempre dizia que queria
encontrar um homem rico, lindo e carinhoso. Eu particularmente acho essas três
características bem distintas para serem encontradas em um único homem, mas não
podia acabar com esperanças dela e de certa forma, ela parecia muito com minha
antiga eu.
-
Boa noite, gostariam de beber alguma coisa?
Uma
loira de blusa curta e pernão de fora, falou se aproximando da nossa mesa.
- Quero
uma água mineral sem gás. Estamos esperando umas amigas e depois faremos o
pedido – respondi olhando para Laura, que procurava algo no ambiente, olhando
de um lado para o outro – Você quer alguma coisa Laura?
-
Não, estou procurando as meninas. Não consegui ouvir direito, mas acho que elas
chegaram e não estão nos achando, vou dar uma volta e ver se as encontro.
-
Certo. Por enquanto só isso – falei olhando para a “Pernão-de-fora”, que fez
uma anotação em um aparelho ultramoderno de captação de pedidos, e saiu para
atender outras pessoas.
Aproveitei
que estava só e comecei a observar o ambiente a minha volta. As pessoas pareciam
gostar muito dessa vida noturna. Nunca fui de sair muito. Na verdade, ha alguns
anos passei a me dedicar aos estudos e ao trabalho um pouco mais do que os meus
amigos. Quando conheci Laura, foi quase um choque de diferenças. Ela sai todo
fim de semana e é muito animada. Acho que por isso nos aproximamos. Os rapazes
sempre ficavam encantados diante da sua beleza. Morena e inteligente, ela
raramente estava só. Sempre tinha um relacionamento em aberto, ou um em vista.
Eu
namorei por um ano um rapaz que conheci na época da escola, mas ele terminou
comigo sem explicação e um mês depois apareceu com um namorado. O segundo
namorado que eu tive se apaixonou pela minha prima. E a terceira experiência
amorosa considerável que eu tive, também não foi feliz, ou seja, se fossem
escrever um livro sobre minha vida seria: As
desventuras amorosas de Katherine.
Depois
que entrei na faculdade, sai com alguns caras bem legais, mas nada que significasse
um relacionamento sério, ou algo que chegasse perto de ser um relacionamento.
Não que eu não quisesse, às vezes até parecia algo promissor, mas sentia que
não era o momento certo, e como sempre lembrava da minha terrível e
intransferível falta de sorte com os homens.
- Ei
você está ai!
Mia
surgiu no meio da multidão seguida por Clair e Laura.
Mia
Benett é a figura mais romântica e doce do nosso grupo. Ela sempre encontra
algo bom nas pessoas. Nos conhecemos na faculdade também, em algumas disciplinas
que estudávamos juntas. Desde então começamos a sair, e através dela, conhecemos
a Clair, sua prima. Elas moram juntas em um apartamento custeado pelos pais de
Mia. Eles não queriam que ela morasse só, então pediram que Clair dividisse o
apartamento com ela. Não que Clair fosse madura o suficiente para cuidar de
Mia. Essa foi mais uma tentativa da família para que Mia colocasse juízo na
cabeça de Clair.
-
Olá meninas, e ai, gostaram daqui? – Perguntei às nossas novas colegas de
noitada.
- Eu
amei, nem acreditei quando a Laura me disse que tinha conseguido essas entradas.
– Clair sentou ao meu lado e me deu dois beijos no rosto.
- É
incrível e a música é ótima.
- E
da limusine também, não é amiga? Vamos combinar que vocês fecharam essa noite...
Era para terem ido nos buscar. – Reclamou Clair pegando seu celular de última
geração e tirando uma self nossa. – Essa daqui é para o registro de como
chegamos esta noite... Como sairemos... Só Deus sabe! – Rimos alto diante
daquela verdade.
-
Olá, sejam bem-vindas. Desejam fazer o pedido agora? – A eficiente Pernão-de-fora
surgiu repentinamente trazendo a minha água.
- Eu
quero Martini Rosé com gelo. – Disse Laura.
- Um
suco de laranja. – Pedi.
-
Como é que é? – Disparou Laura indignada. – Beba alguma coisa de verdade, minha
filha!
- O
que ha de errado com meu suco?
-
Kathy, querida, você é puritana demais. – Foi a vez de Clair. – Se joga, amiga.
Essa noite vale tudo.
-
Melhor ser puritana do que ser a secretaria do capeta, Clair. – Mia falou me
defendendo. – Eu quero um Martini também.
- E
alguém precisa estar sóbria pra levar vocês para o AA. – Comentei.
- Só
estou mandando a real. Às vezes um pouco de álcool no sangue ajuda a tirar o
estresse. A relaxar. Pensei que era isso que você queria, amiga.
-
Relaxamento e alcoolismo são duas coisas diferentes pra mim.
-
Toda vez é a mesma coisa. Deixa ela em paz, Clair. Nós a conhecemos assim e ela
vai morrer assim. Mas no velório dela, a gente bebe todas pra compensar a vida
sóbria que ela levou.
Laura
explodiu em risadas que aos poucos contagiou a todas nós. Menos, é claro, a
Pernão-de-fora, que perguntou impaciente:
- Da
licença. Vocês vão querer mais alguma coisa?
-
Apague o suco dela, amiga.
- De
jeito nenhum. – Reclamei. – Um suco de laranja sem açúcar e com gelo. Por
favor.
- Para
mim – Começou Clair: - Quero um... Tem um champanhe chamado: Bollinger Grande
Année Rosé? – Perguntou ela e todas nós a encaramos ao mesmo tempo. – O que
foi? Li em um romance que era um ótimo champanhe.
- Temos
sim. Mais alguma coisa?
-
Não, obrigada. – Respondi por todas nós.
-
Você deveria tomar pelo menos uns coquetéis. Pelo menos hoje. Existem uns
ótimos, você deveria experimentar. Além do mais, eles não embebedam. – Laura
comentou com ar de seriedade. – Bom, só se você beber muitos e não comer nada.
- Ainda
bem por que alguém precisa evitar que vocês façam besteira. – Reclamei.
- Tá
bom, mãe. – Esbravejou Clair, ao meu lado.
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As
músicas estavam cada vez mais convidativas e os dois coquetéis de nomes
bizarros que bebi para agradar as meninas – bom, pelo menos até descobrir que
tinha lá seu lado bom – começavam a me deixar um pouco mais empolgada que o
normal. Por isso odiava o álcool. Ele me deixava meio idiota.
-
Vamos dançar. – Chamou Mia, que, a julgar pela quantidade de rizadas bobas,
também estava sendo conduzida pelo álcool.
-
Essa mesa está muito sem graça mesmo... Vamos lá Kathy. – Disse Laura já me
puxando para fora do sofá.
Nós dançamos
de todas as formas que eram possíveis, levando em consideração o tamanho dos
nossos saltos e saias. Clair logo estava toda se exibindo para um figurão
aparentemente bem mais velho que ela, e ela descia até o chão quase mostrando a
calcinha. Eu poderia estar meio idiota,
mas nem tanto. Mia e eu dançávamos soltas. E Laura, como sempre, estava
sendo levada da pista por um cara. Isso sempre acontecia. Mas aquele era
diferente, ele era um moreno muito alto e tinha cara de encrenca, o que
obviamente ela não conseguia perceber. Só compreendia o quanto ele estava
ligado no rebolado dela. Eu conhecia aquele jeito de dançar de Laura. Era
basicamente: um convite indecente.
-
Vou pedir algo para comer, quer alguma coisa Mia?
-
Não, estou bem. – Ela sorriu, e olhou para o lado. – Quer que eu volte com você
pra mesa?
Segui
seu olhar e vi um homem loiro olhando para ela. Quando a olhei novamente,
percebi que suas bochechas estavam rosadas.
-
Não, não precisa, amiga. Já, já, volto. – Comecei a me afastar, indo até o bar à
procura da Pernão-de-Fora.
Depois
do lanche rápido que fiz sentia-me mais disposta. Decidida a procurar as
meninas, ergui meu copo de suco de laranja e senti um arrepio forte no pescoço.
Nossa, que frio é esse? Desfiz
rapidamente o rabo de cavalo, e deixei meus cabelos loiros caírem pelos ombros
até a cintura. Dei uma conferida rápida no espelho de bolsa, retoquei o batom e
bebi o que ainda havia no copo. Levantei, joguei o cabelo de lado e fui
procurar as meninas.
Primeiro
encontrei a Mia. E vi de longe Laura, ainda com o moreno que eu achei muito estranho.
-
Você viu a Clair?
-
Acho que ela ganhou um upgroud pra
área Vip.
- Será
que ela encontrou o príncipe dela?
-
Acho que está mais para sapo. – Mia olhou para a escada a nossa frente e logo
entendi por que.
Clair
descia as escadas com cara de quem comeu e não gostou. Quando se aproximou de
nós, deu um sorriso meio forçado.
-
Ele é casado.
-
Como assim, ele disse na maior? – Perguntei meio sem acreditar na sinceridade
do figurão.
-
Não, a esposa ligou pra ele. Ele mentiu dizendo com quem estava... Resumindo:
eu saquei na hora. Enquanto ele falava com ela, eu dei um tchauzinho e saí.
-
Simples assim? – Perguntou Mia.
-
Simples assim. – Ela olhou mais uma vez para a Área Vip e se voltou para nós. –
Mas vocês vão ficar me olhando com essa cara ou vão me chamar pra tomar alguma
coisa? – Disse ela colocando as mãos na cintura e parecendo a mesma adolescente
de sempre.
-
Vamos lá. – Sorri pra ela.
Tinha
ido ao bar fazer nossos pedidos, enquanto Mia e Clair voltaram para a mesa.
Estava um pouco indecisa se beberia o de sempre, ou arriscaria em algo mais
quente. Enquanto esperava a nossa atendente voltar ao bar, senti novamente
aquele frio desconfortável no pescoço. Meu coração me alertou: alguém estava me
observando.
Tirei
os olhos da carta de bebidas, ridiculamente parecendo um investigador de quinta, e olhei discretamente para a minha
direita e lá só havia um casal e mais a frente dois rapazes pegando umas
bebidas. E os quatro, estavam fazendo coisas mais importantes do que ficar me
encarando. Deve ser coisa da minha
cabeça! Sentei-me no banco e fiz meu pedido assim que Pernão-de-Fora chegou,
inclusive, ela já não estava tão simpática quanto antes.
-
Três dessas... Cor de rosa aqui. – Apontei para a carta de bebidas à minha
frente.
- De
mulherzinha? – Ela perguntou um pouco amarga. Conferi no meu Rolex: doze e
quarenta e cinco. Devia ser por isso.
- Se
é assim que você chama...
Quando
virei-me para sair senti novamente o friozinho no pescoço. Arrisquei dar uma
olhada nas pessoas que estavam no bar no lado esquerdo, e, por um minuto, senti
todas as minhas cartilagens congelando.
Uau...
O
que percebi foram os olhos mais penetrantes que já vi. Um olhar tão profundo que
até me senti um pouco exposta, pois ele me olhava de forma tão intensa que
conseguia até sentir o seu olhar queimando a minha pele. O homem que
descaradamente me encarava estava sentado lá no bar. Em um dos últimos bancos.
Ele era muito elegante com seu paletó cinza-chumbo de risca de giz e sua
gravata, que era tão azul quanto os seus olhos de águia.
Seu
cabelo castanho escuro estava assanhado de uma forma bem sexy. Seu rosto era quadrado,
formado por maxilar rígido de traços definidos e em seu queixo pontudo pousava
discretamente um buraquinho, que eu sabia que além de sensual, ficaria ainda
mais lindo se ele sorrisse.
Como estava fazendo naquele exato
momento...
Sua
boca, bem desenhada, era contornada por lábios tão perfeitos que senti um frio
involuntário atravessando a minha barriga quando imaginei como seria o beijo
daquele homem-deus... Seus braços pareciam bem fortes debaixo daquele paletó
justo. E somente quando ele fez um breve movimento levantando o copo de uísque,
me oferecendo um drink, despertei do
transe. Fiz que não rapidamente com a cabeça e virei-me devagar para voltar à
mesa. Tentando recuperar os movimentos outrora perdidos, e, completamente sem
ar, confesso.
Na
segunda passada arrisquei dar uma olhada para trás, para vê-lo novamente. Mas
ele não estava mais lá. Procurei vagamente entre as pessoas do bar e não o vi. Havia
cinquenta por cento de chance de aquilo ter sido um delírio causado pela associação
de: coquetel+algum-tempo-sem-namorar. Um homem lindo, sexy e com um olhar cheio
de convites tentadores me oferecendo uma bebida. Sem dúvida: um delírio.
Clair
e Mia conversavam alegremente quando voltei à mesa.
- Nossa
como você demorou Kathy! – Disse Clair puxando meu braço para me sentar entre elas.
– Katheriny Williams você está pegando fogo! Você está bem? – Perguntou
arregalando os olhos e tocando minha testa para ver se eu não estava com febre.
- Eu
é... Estou. Deve ser impressão sua, eu estou ótima!
-
Seu rosto está vermelho... Aconteceu alguma coisa? – Foi a vez de Mia, se
mostrando igualmente preocupada.
-
Não eu só... Eu só vi um cara muito bonito lá no bar. E ele me ofereceu uma
bebida... que eu recusei.
Expliquei
mais com as mãos do que com as palavras. Pegando minha bebida assim que a
garçonete chegou e tomando um gole, o que foi ruim considerando o sabor do
líquido rosa. Minha garganta estava seca e minha pele queimando.
- E
ele deixou você assim? Uau Kathy, ele deve ser muito gato mesmo. Um vulcão se
acendeu em você, até que enfim um homem mexeu com você, minha filha. – Clair
soltou uma gargalhada ao meu lado, me deixando mais sem graça ainda.
-
Clair! Eu não sou como você, tá?
-
Por que você deu um fora nele? Kathy você trabalha demais, está na hora de se
divertir um pouco... Nem me lembro da última vez que vi você saindo com alguém.
– Mia falou o mais baixo que pode para ninguém ouvir.
- Eu
estou bem... Só... Só fiquei assim por que o olhar dele foi muito profundo – Vi
os olhos de Clair se revirando e outra gargalhada escapando de sua boca enorme.
– E além do mais ele não é do tipo casual, ele é meio... Perigoso, viciante, hipnotizante,
entre outras coisas...
-
Como é que você sabe disso Katheriny? Você nem falou com ele! – Reclamou Clair
cruzando os braços.
-
Ele ainda está por aqui? Me mostra ele Kathy. – pediu Mia estudando o ambiente.
Dei
uma conferida no local e não o vi. Ele devia ter ido embora ou ter encontrado
alguém que aceitou a sua oferta irresistível e tentadora.
- Ele
não está mais aqui. E Laura? Onde será que ela está? – Mudei de assunto, para
tirar o foco de mim.
- Ah,
ela passou por aqui um pouco antes de você voltar, disse que ia sair com o tal
de Raymond não sei das quantas e que não voltaria para casa conosco.
-
Que rápida, hein? – Comentou Mia sorrindo.
- Isso
é estar emocional e sexualmente preparada. O que definitivamente Katheriny Lowren
Williams não está.
- Ah,
não fala assim, Clair... Ela só não é uma predadora de homens, como você e
Laura são.
-
Boa, garota!
-
Mas vamos! Precisamos dançar um pouco. Principalmente você Kathy.
-
Dispensou o cara misterioso, e fica ai se roendo. Bem feito! – Clair reclamou enquanto
se levantava e ajeitava sua minissaia, a menor de todas.
Odeio Clair McCollen. Com
essa anotação mental, segui para a pista de dança à procura daquele elemento
químico altamente viciante ainda não identificado na minha tabela de “cretinos
irresistíveis”.
__________________________________________
Mercy de Duffy tocava alto.
A pista estava pegando fogo. As pessoas estavam cada vez mais sob o efeito dos
coquetéis. Inclusive eu! Conduzida
pela música, liberei meu corpo e fiquei dançando, enquanto Mia e Clair seguiram
para o banheiro. Joguei o cabelo de lado e continuei a me balançar no ritmo
envolvente. Sem sentir, fechei olhos. Ergui os braços acima da cabeça, e os
desci deslizando as mãos na minha nuca, e depois por toda a lateral do meu
corpo. As batidas da música me fizeram abrir os olhos um instante, e sorrindo
de mim mesma fiquei estática. Era ele.
Mexa-se! Mexa-se! Pedia
o meu corpo.
Ele
estava parado do outro lado da pista. Ele tinha um porte físico alto e
elegante. E mesmo com algumas pessoas dançando próximas a ele, sua figura não
passava despercebida, especialmente quando misteriosamente uma fila de espaços se
abriu entre o local onde eu estava até onde ele se encontrava, como uma ponte. E
no fim daquele caminho os olhos dele
encontravam os meus. Profundo e azul como antes, seu olhar me provocava descendo
lentamente em cada parte do meu corpo, me deixando além de tonta, muito
arrepiada.
Ele
deitou a cabeça de lado, encarando meus olhos novamente, levantou sua bebida e
eu pude ler em seus lábios: Dance pra mim...
Não
sei o que aconteceu com meu corpo, mas imediatamente respondi ao seu pedido.
Recomecei a minha dança, ensaiando passos um pouco mais sensuais que antes. Girei
o meu corpo e joguei o cabelo de lado mostrando a lateral do meu pescoço e a
minha tatuagem de três pássaros alçando voo. Com uma olhada furtiva, conferi se
ele havia percebido a intenção do meu gesto, e minhas pernas ficaram bambas
quando um sorriso predatório atravessou o seu rosto. Não saber quem era aquele homem
aguçou ainda mais os meus sentidos.
De
frente para ele eu o encarava e me derretia. E quando ele ergueu o copo mais
uma vez tomando um gole rápido e passou o indicador pelos lábios, percebi o
brilho leve em sua testa. Eu soube que ele me queria. Sorri discretamente para
ele, em resposta ao seu gesto, e seus olhos ganharam vida. Nós estávamos
conectados, mesmo distantes.
Joguei
as mãos a redor dos cabelos e segurei-os. Ele me olhou e ergueu uma
sobrancelha. Depois desci uma das mãos pelo pescoço, e ele ergueu o queixo
esperando o que eu faria a seguir. Quando passei vagarosamente pelo meu seio,
seus lábios se entreabriram e pude quase sentir sua respiração pesada. Seus
olhos brilhavam e pareciam estar sedentos por mim. Continuei descendo e
passando por minha barriga até parar na lateral da saia preta colada em meus
quadris, onde também pousaram seus olhos. Um sorriso sensual surgiu aos poucos
em seus lábios, expandindo-se conforme seus olhos procuravam os meus. Quando
nos olhamos novamente, um calor absurdamente forte passou por cada parte da
minha pele. Eu estava derretendo sob seus olhos. E aquilo era delicioso demais.
O
que Duffy cantava era a mais pura verdade. Suas palavras de certa forma
pareciam minhas em frente àquela criatura tentadora. “Você me tem...” “Estou presa no seu feitiço...”. E diante disso, ergui
o queixo e soltei uma gargalhada. E apesar de surpreso, ele também se entregou
ao meu riso. E depois tomou todo o uísque que havia em seu copo. Deixando-me
ansiosa e entregue aos seus olhos pesados e intensos de desejo.
Ele
entregou o copo para um garçom que passava e deu o primeiro passo em minha
direção. Minha respiração começou a agitar meio peito, fazendo-o subir e descer
apressado. E com mais um passo dele, pude sentir uma estranha vontade de fugir.
Olhei de lado e não haveria escapatória. Até que Mia e Clair surgiram no meu
campo de visão.
-
Minha filha, que dança é essa? Está no cio, Katheriny?
-
Ele está aqui.
- Ai
meu Deus, onde? – elas perguntaram ao mesmo tempo.
- Atrás
de vocês, a uns três metros, paletó cinza e gravata azul.
Elas
viraram dançando a procura do meu tormento. Enquanto eu ainda sentia minha
pulsação descompassada.
-
Não estou vendo. Tem muita gente aqui. – Clair falou o mais discreta que pode.
Alinhei
o olhar para além das minhas amigas e tive uma surpresa: o homem-mistério não
estava mais lá. Misteriosamente a “ponte” fora invadida por outras pessoas e eu
perdi o acesso ao meu pote de ouro em forma humana. Uma pontada de decepção
surgiu em mim. Tinha gostado de dançar daquela forma, de me derramar para ele. Viciei-me em ter aqueles olhos em
mim. Mas estava parecendo uma idiota falando de um homem que só eu via. Era
hora de ir para casa.
__________________________________________
Retornamos
à nossa mesa meia hora depois, decididas a dar por concluída a nossa noite. Já
tínhamos vivido emoções demais, para uma única boate. Clair fez sinal para a garçonete
e pediu a nossa conta. Peguei minha bolsa a fim de procurar o celular para
ligar para o motorista vir nos buscar. E, entretida com a busca na agenda do
Blackberry, quase tomei um susto quando uma voz grave invadiu o ambiente e
tirou todo o ar dos meus pulmões.
-
Com licença senhoritas.
Não
precisava olhar para saber que era ele. O cheiro do ambiente mudou, eu mudei. Senti-me preenchida do vazio
que minutos atrás sentira. Uma cotovelada de Clair me fez erguer os olhos
vagarosamente, tentando em vão disfarçar o desconforto.
Quando
nossos olhos se encontraram, depois do que pareceu uma eternidade, ele deu um
pequeno e rápido sorriso. Tão lindo, tão lindo, que fiquei com a boca seca,
imaginando – novamente, como seria me perder naqueles lábios.
- É
ele? – Clair perguntou bem baixinho ao meu ouvido.
-
Hã-rãm. – foi só o que consegui articular.
-
Poderia me acompanhar um instante?
Ele
estendeu a mão para mim, e meus olhos desceram do rosto dele, passeando pelo
ombro, braço, até chegar à bela mão, que, aberta, esperava a minha aceitação.
Algo
como um tsunami de mãos nos meus braços ajudando-me a levantar, tirando a bolsa
do meu colo e o celular da minha mão, aconteceu. Olhei para um lado e vi o
sorriso de Mia, que quase chegava a partir seu rosto em dois. E para o outro,
os olhos inquisitivos de Clair me mandando: “vai logo, sua tonta!”.
Uma energia
tão forte passou por nossos corpos, que explodiu como um choque quando nos
tocamos. Instantaneamente nós olhamos para o ponto onde estávamos mais
próximos. A sensação foi algo semelhante ao impacto de um meteoro caindo na
Terra. Tive vontade de puxar a mão diante daquela sensação inusitada e de tudo
o que estava acontecendo dentro de mim, mas senti que estava muito mais fisgada
por ele do que julgava a minha vã
filosofia. E, desistindo de puxar a mão e de fingir que não fora seduzida,
deixei-me conduzir por aquele estranho sedutor, que me segurava fortemente.
Antes
de alcançarmos a escada que levava à área Vip, Blanke Space ressoou pelas enormes caixas de som trazendo a voz
adorável de Taylor Swift. Sorri balançando a cabeça com a consciência da letra
da música.
Meu Deus, aquilo parecia ter sido
combinado...
-
Você gosta dessa música?
O
calor do seu hálito tocou minha bochecha quando ele falou por trás de mim. E
antes que eu pudesse responder que eu amava aquela música, seu braço refreou
meu passo e enlaçou minha cintura, fazendo-me virar e encarar seu lindo
sorriso.
- Eu
amo essa música.
Seus
braços me levaram de encontro ao seu corpo firme e eu fiquei indecisa se aquilo
era invasivo ou era o que eu queria desde o começo. Seu olhar transmitia um
misto de calor e ternura que me deixaram sem jeito. E sem saber se pulava ou
não daquele penhasco, enlacei seu ombro, e pousei uma mão em seu peito,
deixando que ele me conduzisse pela melodia que eu tanto gostava.
Nice
to meet you, where you been?
-
Onde você esteve? – Ele encostou o rosto no meu, eu sentia seu sorriso na minha
bochecha.
Minhas
bochechas queimavam, mas eu me sentia confortável. Eu me sentia livre ali
dançando com ele da forma como ninguém mais dançava. Desconectados do mundo, mas
interligados a nosso modo. O que se confirmou quando simplesmente passamos a
nos olhar enquanto nossos corpos seguiam o mesmo ritmo.
Não
é interessante? Eu e esse estranho?
Love’s a game, wanna play?
Sua
sobrancelha se ergueu incitando-me a responder à pergunta de Taylor. E eu fiz
um biquinho pensando no que responder.
-
Então você não quis beber comigo... – Ele comentou próximo ao meu ouvido.
-
Não aceito nada de estranhos.
-
Bom, não posso deixar de dizer que estou tentando deixar de ser um.
Revirei
os olhos diante do óbvio e ele sorriu mais uma vez.
Deitei
meu rosto em seu peito sentindo seu calor e ouvindo a vibração do seu peito.
Aquilo era tão bom que comecei a cantarolar a letra da música, agradecendo
baixinho por ninguém poder me ouvir, já que eu não nasci para cantar.
Nossos
quadris se tocavam sem cerimônia. E nos estávamos confortáveis um com o outro. Encaixados.
Envolvidos.
-
Queria fazer uma proposta...
Para ser o garoto bom e o mau em um fim
semana? Pensei.
-
Bom, espero que eu tenha algo a ganhar com isso. Um milhão de dólares, quem
sabe...
Sua
mão deslizou da minha cintura subindo pela coluna e me presenteando com
deliciosos arrepios. Seus dedos tocaram meu maxilar puxando-me levemente. Eu
estava a um centímetro e meio dos seus lábios. E isso era muito tentador.
-
Temos muito a ganhar. Muito mais do que isso, minha cara. – Ele disse tocando
meu rosto com as pontas dos dedos.
Um
toque que lembrava veneração. Que fazia meu corpo me pressionar contra o seu e
que tirava todo o ar que havia em meus pulmões. Um segundo a mais naquela
posição e eu estaria rendida ao seu charme. Por isso, soltei-o e dei um passo
atrás. Comecei a dançar solta. Eu queria admirá-lo. Mas isso não fazia bem
parte dos seus planos.
-
Você não sabe dançar ou é só timidez? – Perguntei.
Seus
olhos ganharam um brilho especial e ele deu um passo à frente tomando-me
novamente em seus braços. Seus dedos cruzaram aos meus e ele segurou minhas mãos
atrás de si encostando a testa na minha.
-
Não mude de assunto.
Naquele
instante a música entrou no refrão e ele soltou-me rapidamente fazendo-me girar
diversas vezes no meio do salão. Meu rabo de cavalo enlaçava meu pescoço e eu
sorria enquanto a aquarela vinda do teto banhava nossos rostos.
Joguei
a mão livre a cima da cabeça dançando entregue à ele e à canção. Mas o estranho
me puxou para junto de si novamente fazendo nossos corpos se chocarem e nossas
risadas ressoarem.
Me
abraçando com certa urgência, senti quando seus lábios tocaram meu pescoço.
Levando-me a sentir uma embriaguez sem sentido. Minha pele ardia e meu interior
emitia pequenos tremores enquanto sua respiração inebriava os meus sentidos. Eu
sabia que nada poderia me tirar dali.
Screaming, cryting, perfect storms
I
can make all the tables turn
Enlacei
seu pescoço e me deixei levar por seus beijos e seu toque. Meus dedos seguiram
um rumo certo e enquanto nossos corpos iam de um lado a outro no ritmo da
música, eu sentia seu cabelo negro e macio e inspirava seu cheiro amadeirado. E
somente quando sua língua tocou meu esterno, senti que desmaiaria.
Joguei
a cabeça para trás, incapaz de mantê-la firme, e minhas pernas tremeram quando
seu braço segurou meu corpo para que eu não caísse e beijou abaixo do meu
maxilar. Abri meus braços como as aves que alçam voo em meu ombro, e fechei os
olhos impondo-me a difícil tarefa de aproveitar o momento nos braços daquele
estranho.
But
I got a blanke space, baby
And I’ll write your name
Suas
mãos agarrando fortemente minha cintura ergueram meu corpo sem nenhum esforço acima
de sua cabeça. E eu flutuei como queria. Ele me fizera voar. Ele entendia o que
eu desejava naquele momento.
Quando
abri os olhos e encarei os seus, notando algo diferente transbordar dele
naquele momento. Seus lábios grossos estavam levemente avermelhados e suas
pupilas dilatadas. Pousei minhas mãos em suas têmporas adorando a forma como
ele me olhava e beijei sua testa. Meus seios tocaram seu rosto de leve, mas
naquele instante isso não importava.
E
com um sorriso, no instante em que Taylor disse sua última palavra ele me pôs
no chão.
Minhas
pernas trêmulas quase não sustentavam meu corpo.
-
Saia comigo três vezes.
Ele
disse preso no encanto que nos rodeava. Mas a mulher racional em mim
repentinamente ganhou vida. E eu a odiei desde então.
Uma vez não bastava? Que proposta maluca
era aquela? Será que ele queria me enlouquecer? Eu pensava... E se eu quiser
mais? Eu vou querer mais... E se eu não quiser mais depois do primeiro
encontro? Por que isso também é possível... Bom, talvez isso não seja bem uma
verdade...
- Por
que três vezes? – Soltei, me desvencilhando do emaranhado de perguntas sem
resposta.
A
nova música começara e as pessoas dançavam despreocupadas. Mas eu se quer
saberia dizer que era o cantor.
- Menos
do que isso é inaceitável. E também por que, pesquisas apontam que uma mulher
como você deveria sair como um cara como eu.
-
Ah, e o que é que essas pesquisas falam sobre os caras como você.
-
Ah, elas dizem coisas muita boas ao nosso respeito.
-
Hum. E de acordo com essas pesquisas, qual a porcentagem de foras que esses
caras levam?
Um
sorriso travesso surgiu em seu rosto.
-
Bom, depende do seu ponto de vista... O que você quer que eu responda?
Uma
risadinha nervosa escapou de minha garganta, enquanto eu traçava rapidamente um
plano de fuga. Pois era sempre assim que eu encarava qualquer espécie de
relacionamento com os homens desde que... bem, desde que eu resolvi mudar o
rumo da minha vida.
-
Você jamais vai descobrir isso...
Meu
estômago quase gritou dizendo que minha mente precisava de uma dose de álcool
para sair sã daquela boate.
-
Pense bem. Quero muito encontrar você. Saia
comigo, minha linda estranha.
Sua
voz soava cada vez mais rouca e sexy, tornando o ato de respirar algo
completamente difícil. Respire Kathy... Um
esforço absurdo me ajudou a tirar os olhos dele e a me recompor. Olhei ao redor,
sem me surpreender com o fato de estarmos “a sós em meio a tantas pessoas”, por
mais clichê que isso pudesse parecer.
-
Você ainda não deixou de ser um estranho...
Seus
olhos vacilaram por um segundo. E por um segundo e pensei ver Jack Herman na
minha frente. Algo nele despertou um gatinho na minha mente e me levou de volta
ao passado. Para a triste e revoltante história da minha vida amorosa. Aquilo
não estava começando bem. E sentindo um longo e dolorido arrepiou na minha
nuca, dei por encerrado aquele ciclo de flertes aparentemente inocentes.
-
Preciso ir, Estranho.
-
Deixo você na sua mesa.
-
Não... Não precisa, sei o caminho.
-
Mas eu faço questão. – Seus lábios desenharam um sorriso no canto da boca.
Ok cavalheiro, você ganhou...
Seguimos
nos desviando de algumas pessoas que dançavam de uma forma totalmente estranha
e que ganhou minha atenção até ele por a mão na base da minha coluna, guiando-me,
o que obviamente, passou a ser o ápice da minha atenção. O único problema era
que eu ainda não estava preparada para sentir aquele toque. E um gemido escapou
da minha garganta, enquanto a adrenalina bombeava o meu sangue.
-
Você está bem? – Ele perguntou me olhando preocupado.
Pensei
rapidamente na música que dançamos, nos beijos, delírios, arrepios e
propostas...
-
Sim. Por que não estaria?
Seus
dedos passearam repentinamente pelo meu ombro. Fiquei surpresa, mas decidi
aliviar o passo para sentir um pouco mais daquele contato. Pousando de lado
algumas mexas do meu cabelo, seus dedos deslizavam em cima dos pássaros da
minha tatuagem. Seu toque era delicado e marcante ao mesmo tempo. Algo
semelhante ao primeiro beijo.
Quando
chegamos a minha mesa, ele colocou sorrateiramente algo dentro do bolso de trás
da minha saia, tão delicadamente que quase nem perceberia. Quase.
- Bonito
brinco. – Ele disse docemente ao meu ouvido.
Meu
rosto se acendeu visivelmente quando encarei seus olhos azuis.
- Sonhe
comigo.
Sua
voz soou com um sussurro rouco e grave. Erguendo minha mão, o Estranho a beijou enquanto me encarava
profundamente, fazendo os pelos do meu braço eriçarem. E, desviando
milimetricamente o olhar para Clair e Mia, disse:
-
Boa noite senhoritas. – E saiu andando elegantemente com o paletó ainda aberto,
com sua pose de “dono do mundo” antes que elas pudessem responder.
Pouco
depois, ele colocou a mão no bolso e tirou o celular. E eu fiquei observando
seus passos até onde minha visão podia alcança-lo. Obviamente, eu estava como
toda mulher quando se via diante de um homem como aquele: hipnotizada.
-
Sabe aquela bebida rosa? – Olhei para as minhas amigas: - Preciso de uma. –
Elas caíram na gargalhada.
-
Pois chame novamente a garçonete e reabra uma conta para a nossa mesa, por que
o Gostosão ai pagou tudo. – Clair falou ainda rindo de mim.
By Natasha Alves
Natasha.
Um
Naquela
manhã o mundo conspirava para que eu tivesse um bom dia.
Estiquei
o braço e peguei o celular que fazia um barulho delicadamente irritante e uma
pontada de arrependimento surgiu em minha mente: ainda era sexta feira e eu
tinha que trabalhar.
Passei
a noite tão agitada, sonhando com imagens estranhas e escuras, que tinha sérias
dúvidas se dormi de verdade. Tentei organizar as ideias, e lembrei-me de
sorrisos sensuais, e olhos muito, muito penetrantes, de um azul imenso. E que
me deixaram (propositalmente) sem ar. Minha boca ficou seca e meu coração
disparou. Preciso me controlar... Preciso
me controlar! Repetia várias vezes para meu subconsciente. Ele era um risco
que eu não estava disposta a correr.
Sentei-me
na cama, a cabeça ainda meio zonza por todos os acontecimentos da noite
anterior, sentindo o meu rosto arder só de lembrar-me da música, da dança, e do
meu estranho misterioso... Como
poderia resistir àquele chamado? A ele?
Eu nem sabia o seu nome, e não fazia ideia de como e onde encontrá-lo. Mas,
estava quase certa de que ele iria me encontrar.
Levantei
devagar esticando os braços e as pernas, imediatamente me arrependendo. Deveria
ser feriado. Feriado em prol de noites quentes e de propostas loucas! Sorrindo
ridiculamente, desfrutei do doce prazer de acordar levemente dolorida e com a
pele mais sensível do que o normal.
Meu
estranho me tocou.
Senti
uma desconfortável pontada na cabeça, e uma frieza nas mãos repentina. Uma
lembrança invadiu meus pensamentos. Droga,
droga, droga! Atravessei o quarto correndo me sentindo culpada por ter esquecido.
Encontrei minha saia ainda jogada no chão do cômodo, enfiei a mão no bolso
traseiro e peguei o bilhete que o deus do mistério havia colocado lá. E que eu havia esquecido. Acusou meu
coração, que já estava na garganta. Abri com cuidado e fiquei intrigada com
aquelas palavras:
Nos
encontraremos em breve!
N.H.
___________________________________
A
imagem que via no espelho me agradava. Havia escolhido uma blusinha preta e uma
saia de couro preto, além das minhas botas vermelhas de salto agulha, que eu amava.
Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo simples, pois não aguentaria o calor
do verão de Nova York por mais de duas horas em uma boate fechada, e após
passar um batom pink, me sentia pronta.
Ouvia
Laura gritar por mim quando finalmente resolvi que aquela noite seria divertida,
eu daria o meu melhor por isso. Peguei minha bolsa e rapidamente conferi se
tinha tudo o que precisava. Desci as escadas apressada e quase torci o
tornozelo nos últimos degraus. Aquilo
não estava começando bem para a “Noite das
Garotas”.
- Não
acha que exageramos dessa vez? – Perguntei sentando-me no banco traseiro da
limusine que nós alugamos.
-
Hoje é “a” noite Katheriny. Não merecemos nada menos do que isso. Agora vamos
que a noite promete, estou sentindo! – Laura Taylor, minha extravagante colega
de apartamento, era, com certeza, a melhor e a mais fiel amiga que uma pessoa
poderia ter.
Conheci
Laura há seis anos quando entramos na New
York University. Ela era minha colega de aula e logo nos tornamos amigas o
suficiente para dividirmos um apartamento. O Curso de Comunicação e Marketing
terminou e continuamos morando juntas, já que ela também viera de outro estado.
Quando conseguimos nos firmar profissionalmente, decidimos que era hora de
procurar um apartamento maior, mais confortável e algo mais parecido com um
lar, foi quando nos mudamos para o West Village.
Aquela
noite seria diferente das muitas noites que preenchiam os meus dias. O simples
fato de sair do nosso lindo bairro, já me fazia ter certeza disso. West Village
sempre nos pareceu o lugar perfeito. Um bairro tipicamente europeu, com suas
lindas construções e locais atrativos, suas ruas arborizadas repletas de
vitrines, bares e restaurantes, tornavam aquele, um lugar único no meio da
alucinante “cidade que nunca dorme”. E quanto mais o automóvel avançava pelas
ruas movimentadas de Manhattan, mais as luzes se intensificavam, fazendo com
que a vibração da cidade reverberasse em minhas veias. Nova York era a medida
daquilo que eu precisava, de modo que até
o cheiro do asfalto, pneu queimado e a grandiosidade dos prédios simplesmente
me completavam.
- Consegui
entradas para uma casa noturna inaugurada recentemente... Na Quinta A-ve-ni-da
– Laura falou compassadamente.
- Na
Quinta Avenida? – Ele confirmou com a cabeça várias vezes, e meu sorriso
encerrou a frase.
Olhei
pela janela mais uma vez deixando-me levar pela adrenalina que se espalhava,
sorrateiramente, pelo meu sangue. A Fifth
Avenue é o local mais rico de Manhattan. Essa avenida corta a ilha inteira
e é onde Nova York expõe toda a sua riqueza e poder. Nela estão localizadas as
mansões, apartamentos e as lojas mais caras do mundo, sem contar o Central Park, o Empire State Building, o Rockefeller
Center, a Catedral de Saint Patrick,
o Metropolitan Museum e mais outros
pontos turísticos da bela cidade. Dessa forma, passou a ser conhecida também como:
Avenida dos Milionários. E, graças à Laura, era para lá que estávamos indo.
- O
lugar ideal para nos distrairmos depois de uma semana como essa. E além do
mais, é na Quinta Avenida que nós podemos encontrar alguém que nos valorize
como merecemos. – Ela juntou o polegar e o indicador fazendo movimentos
rápidos.
-
Laura Taylor... Sua interesseira.
-
Chegamos! – ela gritou, quase pulando dentro da limusine e batendo palmas como
uma adolescente cheia de hormônios, que não
era.
Na
calçada, uma fila relativamente grande de pessoas nos observava enquanto descíamos
glamourosamente de nossa limusine. A fachada era bem discreta e sofisticada, e em
tons de preto e vermelho eu lia: Fly
Night. Com certeza se não houvesse aquela fila, seguranças fortões na porta
e o letreiro estivesse apagado, aquele lugar passaria despercebido para a
maioria das pessoas. E por isso, já sentia uma simpatia indescritível e algo
dentro de mim prometia fazer daquele, um lugar especial.
Laura
entregou nossos convites ao segurança, que rapidinho nos passou na frente das
outras pessoas abrindo uma espécie de cabo de isolamento vermelho, semelhante
aos usados na fila da entrada do Oscar. Seguimos por um corredor pouco
iluminado e estreito ouvido as reclamações de quem estava na fila, se
misturando às batidas da música lá dentro.
-
Nossa!
Laura
parou bruscamente e me fazendo trombar com ela e quase cair para trás.
-
Ai! O que foi? – Verifiquei rapidamente se alguém tinha visto o nosso pequeno
acidente. – Ah... Entendi – respondi à minha própria pergunta meio paralisada
ao ver o interior da boate.
O
som de Nico & Viniz cantando Am I
Wrong preenchia o ambiente e todo o meu corpo de uma forma que tudo parecia
se encaixar. Eu adorava aquela música. E logicamente, aquele seria um lugar especial.
O
espaço era imenso e redondo. Nada compatível com a minúscula entrada. Ao lado
direito ficava o bar com banquinhos altos ao seu redor, onde algumas pessoas
bebiam e conversavam alegremente esperando suas bebidas serem servidas por
Barmans de outro mundo, em todos os
aspectos. Ao lado esquerdo começava a fila de mesas e sofás em “U”, e acima de
cada mesa havia um lustre moderno, deixando o ambiente bem requintado. Os sofás
eram pretos, e as mesas traziam um tom de marrom bem escuro. As paredes eram de
um vermelho forte. Um vermelho sexy, eu diria. Mais a frente havia uma escada
riquíssima em tons de dourado e com carpetes vermelhos por todos os degraus,
que levava ao segundo andar, onde aparentemente havia algumas mesas, mas estas
eram mais reservadas e contavam com a visão geral de todo o local. Em resumo: Área Vip.
Ao
lado da escada ficavam os banheiros e as saídas de emergência, que eram bem
maiores que a entrada. No centro, pessoas dançavam em cima de um piso de vidro,
enquanto eram iluminadas por uma aquarela que vinha do globo enorme que pairava
acima de suas cabeças. Logo a frente havia também um palco não muito alto, com
vários instrumentos musicais desligados.
-
Adorei este lugar, vem Kathy! Vamos nos sentar ali.
Laura
apontou para uma mesa próxima ao bar, para onde seguimos. E quando nos
acomodamos no espaçoso e confortável sofá, o celular de dela tocou.
-
Deve ser a Mia.
-
Você a convidou?
-
Sim, e a Clair também.
Sentia-me
um pouco mais animada de sermos as quatro. Aquele lugar era maravilhoso e fazia
tempo que não nos reuníamos para nos divertir. O trabalho às vezes me sufocava,
mas era o preço para manter o padrão de vida que eu quis desde que decidi mudar
de vida.
- Elas
vão amar isso aqui. – Ela se esforçava para falar acima da música que estava
mais alta.
- E
vão mesmo. Principalmente a Clair...
Clair
McCollen era a mais nova de nós quatro. Apesar de sua altura e seu corpo
curvilíneo, a mente dela parecia com a de uma adolescente, e não de uma mulher
de 22 anos. Não tinha muitos planos para o futuro, mas sempre dizia que queria
encontrar um homem rico, lindo e carinhoso. Eu particularmente acho essas três
características bem distintas para serem encontradas em um único homem, mas não
podia acabar com esperanças dela e de certa forma, ela parecia muito com minha
antiga eu.
-
Boa noite, gostariam de beber alguma coisa?
Uma
loira de blusa curta e pernão de fora, falou se aproximando da nossa mesa.
- Quero
uma água mineral sem gás. Estamos esperando umas amigas e depois faremos o
pedido – respondi olhando para Laura, que procurava algo no ambiente, olhando
de um lado para o outro – Você quer alguma coisa Laura?
-
Não, estou procurando as meninas. Não consegui ouvir direito, mas acho que elas
chegaram e não estão nos achando, vou dar uma volta e ver se as encontro.
-
Certo. Por enquanto só isso – falei olhando para a “Pernão-de-fora”, que fez
uma anotação em um aparelho ultramoderno de captação de pedidos, e saiu para
atender outras pessoas.
Aproveitei
que estava só e comecei a observar o ambiente a minha volta. As pessoas pareciam
gostar muito dessa vida noturna. Nunca fui de sair muito. Na verdade, ha alguns
anos passei a me dedicar aos estudos e ao trabalho um pouco mais do que os meus
amigos. Quando conheci Laura, foi quase um choque de diferenças. Ela sai todo
fim de semana e é muito animada. Acho que por isso nos aproximamos. Os rapazes
sempre ficavam encantados diante da sua beleza. Morena e inteligente, ela
raramente estava só. Sempre tinha um relacionamento em aberto, ou um em vista.
Eu
namorei por um ano um rapaz que conheci na época da escola, mas ele terminou
comigo sem explicação e um mês depois apareceu com um namorado. O segundo
namorado que eu tive se apaixonou pela minha prima. E a terceira experiência
amorosa considerável que eu tive, também não foi feliz, ou seja, se fossem
escrever um livro sobre minha vida seria: As
desventuras amorosas de Katherine.
Depois
que entrei na faculdade, sai com alguns caras bem legais, mas nada que significasse
um relacionamento sério, ou algo que chegasse perto de ser um relacionamento.
Não que eu não quisesse, às vezes até parecia algo promissor, mas sentia que
não era o momento certo, e como sempre lembrava da minha terrível e
intransferível falta de sorte com os homens.
- Ei
você está ai!
Mia
surgiu no meio da multidão seguida por Clair e Laura.
Mia
Benett é a figura mais romântica e doce do nosso grupo. Ela sempre encontra
algo bom nas pessoas. Nos conhecemos na faculdade também, em algumas disciplinas
que estudávamos juntas. Desde então começamos a sair, e através dela, conhecemos
a Clair, sua prima. Elas moram juntas em um apartamento custeado pelos pais de
Mia. Eles não queriam que ela morasse só, então pediram que Clair dividisse o
apartamento com ela. Não que Clair fosse madura o suficiente para cuidar de
Mia. Essa foi mais uma tentativa da família para que Mia colocasse juízo na
cabeça de Clair.
-
Olá meninas, e ai, gostaram daqui? – Perguntei às nossas novas colegas de
noitada.
- Eu
amei, nem acreditei quando a Laura me disse que tinha conseguido essas entradas.
– Clair sentou ao meu lado e me deu dois beijos no rosto.
- É
incrível e a música é ótima.
- E
da limusine também, não é amiga? Vamos combinar que vocês fecharam essa noite...
Era para terem ido nos buscar. – Reclamou Clair pegando seu celular de última
geração e tirando uma self nossa. – Essa daqui é para o registro de como
chegamos esta noite... Como sairemos... Só Deus sabe! – Rimos alto diante
daquela verdade.
-
Olá, sejam bem-vindas. Desejam fazer o pedido agora? – A eficiente Pernão-de-fora
surgiu repentinamente trazendo a minha água.
- Eu
quero Martini Rosé com gelo. – Disse Laura.
- Um
suco de laranja. – Pedi.
-
Como é que é? – Disparou Laura indignada. – Beba alguma coisa de verdade, minha
filha!
- O
que ha de errado com meu suco?
-
Kathy, querida, você é puritana demais. – Foi a vez de Clair. – Se joga, amiga.
Essa noite vale tudo.
-
Melhor ser puritana do que ser a secretaria do capeta, Clair. – Mia falou me
defendendo. – Eu quero um Martini também.
- E
alguém precisa estar sóbria pra levar vocês para o AA. – Comentei.
- Só
estou mandando a real. Às vezes um pouco de álcool no sangue ajuda a tirar o
estresse. A relaxar. Pensei que era isso que você queria, amiga.
-
Relaxamento e alcoolismo são duas coisas diferentes pra mim.
-
Toda vez é a mesma coisa. Deixa ela em paz, Clair. Nós a conhecemos assim e ela
vai morrer assim. Mas no velório dela, a gente bebe todas pra compensar a vida
sóbria que ela levou.
Laura
explodiu em risadas que aos poucos contagiou a todas nós. Menos, é claro, a
Pernão-de-fora, que perguntou impaciente:
- Da
licença. Vocês vão querer mais alguma coisa?
-
Apague o suco dela, amiga.
- De
jeito nenhum. – Reclamei. – Um suco de laranja sem açúcar e com gelo. Por
favor.
- Para
mim – Começou Clair: - Quero um... Tem um champanhe chamado: Bollinger Grande
Année Rosé? – Perguntou ela e todas nós a encaramos ao mesmo tempo. – O que
foi? Li em um romance que era um ótimo champanhe.
- Temos
sim. Mais alguma coisa?
-
Não, obrigada. – Respondi por todas nós.
-
Você deveria tomar pelo menos uns coquetéis. Pelo menos hoje. Existem uns
ótimos, você deveria experimentar. Além do mais, eles não embebedam. – Laura
comentou com ar de seriedade. – Bom, só se você beber muitos e não comer nada.
- Ainda
bem por que alguém precisa evitar que vocês façam besteira. – Reclamei.
- Tá
bom, mãe. – Esbravejou Clair, ao meu lado.
__________________________________________
As
músicas estavam cada vez mais convidativas e os dois coquetéis de nomes
bizarros que bebi para agradar as meninas – bom, pelo menos até descobrir que
tinha lá seu lado bom – começavam a me deixar um pouco mais empolgada que o
normal. Por isso odiava o álcool. Ele me deixava meio idiota.
-
Vamos dançar. – Chamou Mia, que, a julgar pela quantidade de rizadas bobas,
também estava sendo conduzida pelo álcool.
-
Essa mesa está muito sem graça mesmo... Vamos lá Kathy. – Disse Laura já me
puxando para fora do sofá.
Nós dançamos
de todas as formas que eram possíveis, levando em consideração o tamanho dos
nossos saltos e saias. Clair logo estava toda se exibindo para um figurão
aparentemente bem mais velho que ela, e ela descia até o chão quase mostrando a
calcinha. Eu poderia estar meio idiota,
mas nem tanto. Mia e eu dançávamos soltas. E Laura, como sempre, estava
sendo levada da pista por um cara. Isso sempre acontecia. Mas aquele era
diferente, ele era um moreno muito alto e tinha cara de encrenca, o que
obviamente ela não conseguia perceber. Só compreendia o quanto ele estava
ligado no rebolado dela. Eu conhecia aquele jeito de dançar de Laura. Era
basicamente: um convite indecente.
-
Vou pedir algo para comer, quer alguma coisa Mia?
-
Não, estou bem. – Ela sorriu, e olhou para o lado. – Quer que eu volte com você
pra mesa?
Segui
seu olhar e vi um homem loiro olhando para ela. Quando a olhei novamente,
percebi que suas bochechas estavam rosadas.
-
Não, não precisa, amiga. Já, já, volto. – Comecei a me afastar, indo até o bar à
procura da Pernão-de-Fora.
Depois
do lanche rápido que fiz sentia-me mais disposta. Decidida a procurar as
meninas, ergui meu copo de suco de laranja e senti um arrepio forte no pescoço.
Nossa, que frio é esse? Desfiz
rapidamente o rabo de cavalo, e deixei meus cabelos loiros caírem pelos ombros
até a cintura. Dei uma conferida rápida no espelho de bolsa, retoquei o batom e
bebi o que ainda havia no copo. Levantei, joguei o cabelo de lado e fui
procurar as meninas.
Primeiro
encontrei a Mia. E vi de longe Laura, ainda com o moreno que eu achei muito estranho.
-
Você viu a Clair?
-
Acho que ela ganhou um upgroud pra
área Vip.
- Será
que ela encontrou o príncipe dela?
-
Acho que está mais para sapo. – Mia olhou para a escada a nossa frente e logo
entendi por que.
Clair
descia as escadas com cara de quem comeu e não gostou. Quando se aproximou de
nós, deu um sorriso meio forçado.
-
Ele é casado.
-
Como assim, ele disse na maior? – Perguntei meio sem acreditar na sinceridade
do figurão.
-
Não, a esposa ligou pra ele. Ele mentiu dizendo com quem estava... Resumindo:
eu saquei na hora. Enquanto ele falava com ela, eu dei um tchauzinho e saí.
-
Simples assim? – Perguntou Mia.
-
Simples assim. – Ela olhou mais uma vez para a Área Vip e se voltou para nós. –
Mas vocês vão ficar me olhando com essa cara ou vão me chamar pra tomar alguma
coisa? – Disse ela colocando as mãos na cintura e parecendo a mesma adolescente
de sempre.
-
Vamos lá. – Sorri pra ela.
Tinha
ido ao bar fazer nossos pedidos, enquanto Mia e Clair voltaram para a mesa.
Estava um pouco indecisa se beberia o de sempre, ou arriscaria em algo mais
quente. Enquanto esperava a nossa atendente voltar ao bar, senti novamente
aquele frio desconfortável no pescoço. Meu coração me alertou: alguém estava me
observando.
Tirei
os olhos da carta de bebidas, ridiculamente parecendo um investigador de quinta, e olhei discretamente para a minha
direita e lá só havia um casal e mais a frente dois rapazes pegando umas
bebidas. E os quatro, estavam fazendo coisas mais importantes do que ficar me
encarando. Deve ser coisa da minha
cabeça! Sentei-me no banco e fiz meu pedido assim que Pernão-de-Fora chegou,
inclusive, ela já não estava tão simpática quanto antes.
-
Três dessas... Cor de rosa aqui. – Apontei para a carta de bebidas à minha
frente.
- De
mulherzinha? – Ela perguntou um pouco amarga. Conferi no meu Rolex: doze e
quarenta e cinco. Devia ser por isso.
- Se
é assim que você chama...
Quando
virei-me para sair senti novamente o friozinho no pescoço. Arrisquei dar uma
olhada nas pessoas que estavam no bar no lado esquerdo, e, por um minuto, senti
todas as minhas cartilagens congelando.
Uau...
O
que percebi foram os olhos mais penetrantes que já vi. Um olhar tão profundo que
até me senti um pouco exposta, pois ele me olhava de forma tão intensa que
conseguia até sentir o seu olhar queimando a minha pele. O homem que
descaradamente me encarava estava sentado lá no bar. Em um dos últimos bancos.
Ele era muito elegante com seu paletó cinza-chumbo de risca de giz e sua
gravata, que era tão azul quanto os seus olhos de águia.
Seu
cabelo castanho escuro estava assanhado de uma forma bem sexy. Seu rosto era quadrado,
formado por maxilar rígido de traços definidos e em seu queixo pontudo pousava
discretamente um buraquinho, que eu sabia que além de sensual, ficaria ainda
mais lindo se ele sorrisse.
Como estava fazendo naquele exato
momento...
Sua
boca, bem desenhada, era contornada por lábios tão perfeitos que senti um frio
involuntário atravessando a minha barriga quando imaginei como seria o beijo
daquele homem-deus... Seus braços pareciam bem fortes debaixo daquele paletó
justo. E somente quando ele fez um breve movimento levantando o copo de uísque,
me oferecendo um drink, despertei do
transe. Fiz que não rapidamente com a cabeça e virei-me devagar para voltar à
mesa. Tentando recuperar os movimentos outrora perdidos, e, completamente sem
ar, confesso.
Na
segunda passada arrisquei dar uma olhada para trás, para vê-lo novamente. Mas
ele não estava mais lá. Procurei vagamente entre as pessoas do bar e não o vi. Havia
cinquenta por cento de chance de aquilo ter sido um delírio causado pela associação
de: coquetel+algum-tempo-sem-namorar. Um homem lindo, sexy e com um olhar cheio
de convites tentadores me oferecendo uma bebida. Sem dúvida: um delírio.
Clair
e Mia conversavam alegremente quando voltei à mesa.
- Nossa
como você demorou Kathy! – Disse Clair puxando meu braço para me sentar entre elas.
– Katheriny Williams você está pegando fogo! Você está bem? – Perguntou
arregalando os olhos e tocando minha testa para ver se eu não estava com febre.
- Eu
é... Estou. Deve ser impressão sua, eu estou ótima!
-
Seu rosto está vermelho... Aconteceu alguma coisa? – Foi a vez de Mia, se
mostrando igualmente preocupada.
-
Não eu só... Eu só vi um cara muito bonito lá no bar. E ele me ofereceu uma
bebida... que eu recusei.
Expliquei
mais com as mãos do que com as palavras. Pegando minha bebida assim que a
garçonete chegou e tomando um gole, o que foi ruim considerando o sabor do
líquido rosa. Minha garganta estava seca e minha pele queimando.
- E
ele deixou você assim? Uau Kathy, ele deve ser muito gato mesmo. Um vulcão se
acendeu em você, até que enfim um homem mexeu com você, minha filha. – Clair
soltou uma gargalhada ao meu lado, me deixando mais sem graça ainda.
-
Clair! Eu não sou como você, tá?
-
Por que você deu um fora nele? Kathy você trabalha demais, está na hora de se
divertir um pouco... Nem me lembro da última vez que vi você saindo com alguém.
– Mia falou o mais baixo que pode para ninguém ouvir.
- Eu
estou bem... Só... Só fiquei assim por que o olhar dele foi muito profundo – Vi
os olhos de Clair se revirando e outra gargalhada escapando de sua boca enorme.
– E além do mais ele não é do tipo casual, ele é meio... Perigoso, viciante, hipnotizante,
entre outras coisas...
-
Como é que você sabe disso Katheriny? Você nem falou com ele! – Reclamou Clair
cruzando os braços.
-
Ele ainda está por aqui? Me mostra ele Kathy. – pediu Mia estudando o ambiente.
Dei
uma conferida no local e não o vi. Ele devia ter ido embora ou ter encontrado
alguém que aceitou a sua oferta irresistível e tentadora.
- Ele
não está mais aqui. E Laura? Onde será que ela está? – Mudei de assunto, para
tirar o foco de mim.
- Ah,
ela passou por aqui um pouco antes de você voltar, disse que ia sair com o tal
de Raymond não sei das quantas e que não voltaria para casa conosco.
-
Que rápida, hein? – Comentou Mia sorrindo.
- Isso
é estar emocional e sexualmente preparada. O que definitivamente Katheriny Lowren
Williams não está.
- Ah,
não fala assim, Clair... Ela só não é uma predadora de homens, como você e
Laura são.
-
Boa, garota!
-
Mas vamos! Precisamos dançar um pouco. Principalmente você Kathy.
-
Dispensou o cara misterioso, e fica ai se roendo. Bem feito! – Clair reclamou enquanto
se levantava e ajeitava sua minissaia, a menor de todas.
Odeio Clair McCollen. Com
essa anotação mental, segui para a pista de dança à procura daquele elemento
químico altamente viciante ainda não identificado na minha tabela de “cretinos
irresistíveis”.
__________________________________________
Mercy de Duffy tocava alto.
A pista estava pegando fogo. As pessoas estavam cada vez mais sob o efeito dos
coquetéis. Inclusive eu! Conduzida
pela música, liberei meu corpo e fiquei dançando, enquanto Mia e Clair seguiram
para o banheiro. Joguei o cabelo de lado e continuei a me balançar no ritmo
envolvente. Sem sentir, fechei olhos. Ergui os braços acima da cabeça, e os
desci deslizando as mãos na minha nuca, e depois por toda a lateral do meu
corpo. As batidas da música me fizeram abrir os olhos um instante, e sorrindo
de mim mesma fiquei estática. Era ele.
Mexa-se! Mexa-se! Pedia
o meu corpo.
Ele
estava parado do outro lado da pista. Ele tinha um porte físico alto e
elegante. E mesmo com algumas pessoas dançando próximas a ele, sua figura não
passava despercebida, especialmente quando misteriosamente uma fila de espaços se
abriu entre o local onde eu estava até onde ele se encontrava, como uma ponte. E
no fim daquele caminho os olhos dele
encontravam os meus. Profundo e azul como antes, seu olhar me provocava descendo
lentamente em cada parte do meu corpo, me deixando além de tonta, muito
arrepiada.
Ele
deitou a cabeça de lado, encarando meus olhos novamente, levantou sua bebida e
eu pude ler em seus lábios: Dance pra mim...
Não
sei o que aconteceu com meu corpo, mas imediatamente respondi ao seu pedido.
Recomecei a minha dança, ensaiando passos um pouco mais sensuais que antes. Girei
o meu corpo e joguei o cabelo de lado mostrando a lateral do meu pescoço e a
minha tatuagem de três pássaros alçando voo. Com uma olhada furtiva, conferi se
ele havia percebido a intenção do meu gesto, e minhas pernas ficaram bambas
quando um sorriso predatório atravessou o seu rosto. Não saber quem era aquele homem
aguçou ainda mais os meus sentidos.
De
frente para ele eu o encarava e me derretia. E quando ele ergueu o copo mais
uma vez tomando um gole rápido e passou o indicador pelos lábios, percebi o
brilho leve em sua testa. Eu soube que ele me queria. Sorri discretamente para
ele, em resposta ao seu gesto, e seus olhos ganharam vida. Nós estávamos
conectados, mesmo distantes.
Joguei
as mãos a redor dos cabelos e segurei-os. Ele me olhou e ergueu uma
sobrancelha. Depois desci uma das mãos pelo pescoço, e ele ergueu o queixo
esperando o que eu faria a seguir. Quando passei vagarosamente pelo meu seio,
seus lábios se entreabriram e pude quase sentir sua respiração pesada. Seus
olhos brilhavam e pareciam estar sedentos por mim. Continuei descendo e
passando por minha barriga até parar na lateral da saia preta colada em meus
quadris, onde também pousaram seus olhos. Um sorriso sensual surgiu aos poucos
em seus lábios, expandindo-se conforme seus olhos procuravam os meus. Quando
nos olhamos novamente, um calor absurdamente forte passou por cada parte da
minha pele. Eu estava derretendo sob seus olhos. E aquilo era delicioso demais.
O
que Duffy cantava era a mais pura verdade. Suas palavras de certa forma
pareciam minhas em frente àquela criatura tentadora. “Você me tem...” “Estou presa no seu feitiço...”. E diante disso, ergui
o queixo e soltei uma gargalhada. E apesar de surpreso, ele também se entregou
ao meu riso. E depois tomou todo o uísque que havia em seu copo. Deixando-me
ansiosa e entregue aos seus olhos pesados e intensos de desejo.
Ele
entregou o copo para um garçom que passava e deu o primeiro passo em minha
direção. Minha respiração começou a agitar meio peito, fazendo-o subir e descer
apressado. E com mais um passo dele, pude sentir uma estranha vontade de fugir.
Olhei de lado e não haveria escapatória. Até que Mia e Clair surgiram no meu
campo de visão.
-
Minha filha, que dança é essa? Está no cio, Katheriny?
-
Ele está aqui.
- Ai
meu Deus, onde? – elas perguntaram ao mesmo tempo.
- Atrás
de vocês, a uns três metros, paletó cinza e gravata azul.
Elas
viraram dançando a procura do meu tormento. Enquanto eu ainda sentia minha
pulsação descompassada.
-
Não estou vendo. Tem muita gente aqui. – Clair falou o mais discreta que pode.
Alinhei
o olhar para além das minhas amigas e tive uma surpresa: o homem-mistério não
estava mais lá. Misteriosamente a “ponte” fora invadida por outras pessoas e eu
perdi o acesso ao meu pote de ouro em forma humana. Uma pontada de decepção
surgiu em mim. Tinha gostado de dançar daquela forma, de me derramar para ele. Viciei-me em ter aqueles olhos em
mim. Mas estava parecendo uma idiota falando de um homem que só eu via. Era
hora de ir para casa.
__________________________________________
Retornamos
à nossa mesa meia hora depois, decididas a dar por concluída a nossa noite. Já
tínhamos vivido emoções demais, para uma única boate. Clair fez sinal para a garçonete
e pediu a nossa conta. Peguei minha bolsa a fim de procurar o celular para
ligar para o motorista vir nos buscar. E, entretida com a busca na agenda do
Blackberry, quase tomei um susto quando uma voz grave invadiu o ambiente e
tirou todo o ar dos meus pulmões.
-
Com licença senhoritas.
Não
precisava olhar para saber que era ele. O cheiro do ambiente mudou, eu mudei. Senti-me preenchida do vazio
que minutos atrás sentira. Uma cotovelada de Clair me fez erguer os olhos
vagarosamente, tentando em vão disfarçar o desconforto.
Quando
nossos olhos se encontraram, depois do que pareceu uma eternidade, ele deu um
pequeno e rápido sorriso. Tão lindo, tão lindo, que fiquei com a boca seca,
imaginando – novamente, como seria me perder naqueles lábios.
- É
ele? – Clair perguntou bem baixinho ao meu ouvido.
-
Hã-rãm. – foi só o que consegui articular.
-
Poderia me acompanhar um instante?
Ele
estendeu a mão para mim, e meus olhos desceram do rosto dele, passeando pelo
ombro, braço, até chegar à bela mão, que, aberta, esperava a minha aceitação.
Algo
como um tsunami de mãos nos meus braços ajudando-me a levantar, tirando a bolsa
do meu colo e o celular da minha mão, aconteceu. Olhei para um lado e vi o
sorriso de Mia, que quase chegava a partir seu rosto em dois. E para o outro,
os olhos inquisitivos de Clair me mandando: “vai logo, sua tonta!”.
Uma energia
tão forte passou por nossos corpos, que explodiu como um choque quando nos
tocamos. Instantaneamente nós olhamos para o ponto onde estávamos mais
próximos. A sensação foi algo semelhante ao impacto de um meteoro caindo na
Terra. Tive vontade de puxar a mão diante daquela sensação inusitada e de tudo
o que estava acontecendo dentro de mim, mas senti que estava muito mais fisgada
por ele do que julgava a minha vã
filosofia. E, desistindo de puxar a mão e de fingir que não fora seduzida,
deixei-me conduzir por aquele estranho sedutor, que me segurava fortemente.
Antes
de alcançarmos a escada que levava à área Vip, Blanke Space ressoou pelas enormes caixas de som trazendo a voz
adorável de Taylor Swift. Sorri balançando a cabeça com a consciência da letra
da música.
Meu Deus, aquilo parecia ter sido
combinado...
-
Você gosta dessa música?
O
calor do seu hálito tocou minha bochecha quando ele falou por trás de mim. E
antes que eu pudesse responder que eu amava aquela música, seu braço refreou
meu passo e enlaçou minha cintura, fazendo-me virar e encarar seu lindo
sorriso.
- Eu
amo essa música.
Seus
braços me levaram de encontro ao seu corpo firme e eu fiquei indecisa se aquilo
era invasivo ou era o que eu queria desde o começo. Seu olhar transmitia um
misto de calor e ternura que me deixaram sem jeito. E sem saber se pulava ou
não daquele penhasco, enlacei seu ombro, e pousei uma mão em seu peito,
deixando que ele me conduzisse pela melodia que eu tanto gostava.
Nice
to meet you, where you been?
-
Onde você esteve? – Ele encostou o rosto no meu, eu sentia seu sorriso na minha
bochecha.
Minhas
bochechas queimavam, mas eu me sentia confortável. Eu me sentia livre ali
dançando com ele da forma como ninguém mais dançava. Desconectados do mundo, mas
interligados a nosso modo. O que se confirmou quando simplesmente passamos a
nos olhar enquanto nossos corpos seguiam o mesmo ritmo.
Não
é interessante? Eu e esse estranho?
Love’s a game, wanna play?
Sua
sobrancelha se ergueu incitando-me a responder à pergunta de Taylor. E eu fiz
um biquinho pensando no que responder.
-
Então você não quis beber comigo... – Ele comentou próximo ao meu ouvido.
-
Não aceito nada de estranhos.
-
Bom, não posso deixar de dizer que estou tentando deixar de ser um.
Revirei
os olhos diante do óbvio e ele sorriu mais uma vez.
Deitei
meu rosto em seu peito sentindo seu calor e ouvindo a vibração do seu peito.
Aquilo era tão bom que comecei a cantarolar a letra da música, agradecendo
baixinho por ninguém poder me ouvir, já que eu não nasci para cantar.
Nossos
quadris se tocavam sem cerimônia. E nos estávamos confortáveis um com o outro. Encaixados.
Envolvidos.
-
Queria fazer uma proposta...
Para ser o garoto bom e o mau em um fim
semana? Pensei.
-
Bom, espero que eu tenha algo a ganhar com isso. Um milhão de dólares, quem
sabe...
Sua
mão deslizou da minha cintura subindo pela coluna e me presenteando com
deliciosos arrepios. Seus dedos tocaram meu maxilar puxando-me levemente. Eu
estava a um centímetro e meio dos seus lábios. E isso era muito tentador.
-
Temos muito a ganhar. Muito mais do que isso, minha cara. – Ele disse tocando
meu rosto com as pontas dos dedos.
Um
toque que lembrava veneração. Que fazia meu corpo me pressionar contra o seu e
que tirava todo o ar que havia em meus pulmões. Um segundo a mais naquela
posição e eu estaria rendida ao seu charme. Por isso, soltei-o e dei um passo
atrás. Comecei a dançar solta. Eu queria admirá-lo. Mas isso não fazia bem
parte dos seus planos.
-
Você não sabe dançar ou é só timidez? – Perguntei.
Seus
olhos ganharam um brilho especial e ele deu um passo à frente tomando-me
novamente em seus braços. Seus dedos cruzaram aos meus e ele segurou minhas mãos
atrás de si encostando a testa na minha.
-
Não mude de assunto.
Naquele
instante a música entrou no refrão e ele soltou-me rapidamente fazendo-me girar
diversas vezes no meio do salão. Meu rabo de cavalo enlaçava meu pescoço e eu
sorria enquanto a aquarela vinda do teto banhava nossos rostos.
Joguei
a mão livre a cima da cabeça dançando entregue à ele e à canção. Mas o estranho
me puxou para junto de si novamente fazendo nossos corpos se chocarem e nossas
risadas ressoarem.
Me
abraçando com certa urgência, senti quando seus lábios tocaram meu pescoço.
Levando-me a sentir uma embriaguez sem sentido. Minha pele ardia e meu interior
emitia pequenos tremores enquanto sua respiração inebriava os meus sentidos. Eu
sabia que nada poderia me tirar dali.
Screaming, cryting, perfect storms
I
can make all the tables turn
Enlacei
seu pescoço e me deixei levar por seus beijos e seu toque. Meus dedos seguiram
um rumo certo e enquanto nossos corpos iam de um lado a outro no ritmo da
música, eu sentia seu cabelo negro e macio e inspirava seu cheiro amadeirado. E
somente quando sua língua tocou meu esterno, senti que desmaiaria.
Joguei
a cabeça para trás, incapaz de mantê-la firme, e minhas pernas tremeram quando
seu braço segurou meu corpo para que eu não caísse e beijou abaixo do meu
maxilar. Abri meus braços como as aves que alçam voo em meu ombro, e fechei os
olhos impondo-me a difícil tarefa de aproveitar o momento nos braços daquele
estranho.
But
I got a blanke space, baby
And I’ll write your name
Suas
mãos agarrando fortemente minha cintura ergueram meu corpo sem nenhum esforço acima
de sua cabeça. E eu flutuei como queria. Ele me fizera voar. Ele entendia o que
eu desejava naquele momento.
Quando
abri os olhos e encarei os seus, notando algo diferente transbordar dele
naquele momento. Seus lábios grossos estavam levemente avermelhados e suas
pupilas dilatadas. Pousei minhas mãos em suas têmporas adorando a forma como
ele me olhava e beijei sua testa. Meus seios tocaram seu rosto de leve, mas
naquele instante isso não importava.
E
com um sorriso, no instante em que Taylor disse sua última palavra ele me pôs
no chão.
Minhas
pernas trêmulas quase não sustentavam meu corpo.
-
Saia comigo três vezes.
Ele
disse preso no encanto que nos rodeava. Mas a mulher racional em mim
repentinamente ganhou vida. E eu a odiei desde então.
Uma vez não bastava? Que proposta maluca
era aquela? Será que ele queria me enlouquecer? Eu pensava... E se eu quiser
mais? Eu vou querer mais... E se eu não quiser mais depois do primeiro
encontro? Por que isso também é possível... Bom, talvez isso não seja bem uma
verdade...
- Por
que três vezes? – Soltei, me desvencilhando do emaranhado de perguntas sem
resposta.
A
nova música começara e as pessoas dançavam despreocupadas. Mas eu se quer
saberia dizer que era o cantor.
- Menos
do que isso é inaceitável. E também por que, pesquisas apontam que uma mulher
como você deveria sair como um cara como eu.
-
Ah, e o que é que essas pesquisas falam sobre os caras como você.
-
Ah, elas dizem coisas muita boas ao nosso respeito.
-
Hum. E de acordo com essas pesquisas, qual a porcentagem de foras que esses
caras levam?
Um
sorriso travesso surgiu em seu rosto.
-
Bom, depende do seu ponto de vista... O que você quer que eu responda?
Uma
risadinha nervosa escapou de minha garganta, enquanto eu traçava rapidamente um
plano de fuga. Pois era sempre assim que eu encarava qualquer espécie de
relacionamento com os homens desde que... bem, desde que eu resolvi mudar o
rumo da minha vida.
-
Você jamais vai descobrir isso...
Meu
estômago quase gritou dizendo que minha mente precisava de uma dose de álcool
para sair sã daquela boate.
-
Pense bem. Quero muito encontrar você. Saia
comigo, minha linda estranha.
Sua
voz soava cada vez mais rouca e sexy, tornando o ato de respirar algo
completamente difícil. Respire Kathy... Um
esforço absurdo me ajudou a tirar os olhos dele e a me recompor. Olhei ao redor,
sem me surpreender com o fato de estarmos “a sós em meio a tantas pessoas”, por
mais clichê que isso pudesse parecer.
-
Você ainda não deixou de ser um estranho...
Seus
olhos vacilaram por um segundo. E por um segundo e pensei ver Jack Herman na
minha frente. Algo nele despertou um gatinho na minha mente e me levou de volta
ao passado. Para a triste e revoltante história da minha vida amorosa. Aquilo
não estava começando bem. E sentindo um longo e dolorido arrepiou na minha
nuca, dei por encerrado aquele ciclo de flertes aparentemente inocentes.
-
Preciso ir, Estranho.
-
Deixo você na sua mesa.
-
Não... Não precisa, sei o caminho.
-
Mas eu faço questão. – Seus lábios desenharam um sorriso no canto da boca.
Ok cavalheiro, você ganhou...
Seguimos
nos desviando de algumas pessoas que dançavam de uma forma totalmente estranha
e que ganhou minha atenção até ele por a mão na base da minha coluna, guiando-me,
o que obviamente, passou a ser o ápice da minha atenção. O único problema era
que eu ainda não estava preparada para sentir aquele toque. E um gemido escapou
da minha garganta, enquanto a adrenalina bombeava o meu sangue.
-
Você está bem? – Ele perguntou me olhando preocupado.
Pensei
rapidamente na música que dançamos, nos beijos, delírios, arrepios e
propostas...
-
Sim. Por que não estaria?
Seus
dedos passearam repentinamente pelo meu ombro. Fiquei surpresa, mas decidi
aliviar o passo para sentir um pouco mais daquele contato. Pousando de lado
algumas mexas do meu cabelo, seus dedos deslizavam em cima dos pássaros da
minha tatuagem. Seu toque era delicado e marcante ao mesmo tempo. Algo
semelhante ao primeiro beijo.
Quando
chegamos a minha mesa, ele colocou sorrateiramente algo dentro do bolso de trás
da minha saia, tão delicadamente que quase nem perceberia. Quase.
- Bonito
brinco. – Ele disse docemente ao meu ouvido.
Meu
rosto se acendeu visivelmente quando encarei seus olhos azuis.
- Sonhe
comigo.
Sua
voz soou com um sussurro rouco e grave. Erguendo minha mão, o Estranho a beijou enquanto me encarava
profundamente, fazendo os pelos do meu braço eriçarem. E, desviando
milimetricamente o olhar para Clair e Mia, disse:
-
Boa noite senhoritas. – E saiu andando elegantemente com o paletó ainda aberto,
com sua pose de “dono do mundo” antes que elas pudessem responder.
Pouco
depois, ele colocou a mão no bolso e tirou o celular. E eu fiquei observando
seus passos até onde minha visão podia alcança-lo. Obviamente, eu estava como
toda mulher quando se via diante de um homem como aquele: hipnotizada.
-
Sabe aquela bebida rosa? – Olhei para as minhas amigas: - Preciso de uma. –
Elas caíram na gargalhada.
-
Pois chame novamente a garçonete e reabra uma conta para a nossa mesa, por que
o Gostosão ai pagou tudo. – Clair falou ainda rindo de mim.
Continue escrevendo adorei esse trecho....espero que vire uma obra belíssima...estou ansioso pra ler....
ResponderExcluirObrigada pelo incentivo Jhonata, acredite, é muito importante nessa fase. Espero que mesmo que você goste! :)
ExcluirNatasha, por favor continue escrevendo e postando... eu amei! <3
ResponderExcluirQue bom! Espero postar mais algum capítulo em breve, e espero que você continue amando! :) Obrigada.
ExcluirMuito bom. Pelo visto, vc teve que pesquisar bastante sobre os Estados unidos. Gostei do suspende que vc deu do passado que ela quer esquecer. A personagem principal é discreta. Mas esconde seu ar sexy. Isso se ver quando solta os cabelos e quando dança. Abordou muito bem os fatos e descreveu com muito conhecimento as cenas. Parabéns minha linda. Vou lê os outros capítulos.
ResponderExcluirNem posso dizer como me alegro com suas palavras, amiga ^^ Que bom que você leu e que gostou... E veja minha situação, eu sou apaixonada por Nova York kkkk, então eu decidi que tinha que unir meus dois sonhos, escrever e NYC. Obrigada Flaviane, suas palavras realmente alegraram minha vida (sofrida) de escritora. =)
ResponderExcluirMeninaaaa... Fico lendo e ao mesmo tempo sentindo um sentimento de alegria por saber que conheço a escritora dessas palavras belíssimas... É até estranho, pois sempre leio alguns livros e nunca tive esse sentimento.... Rsrsrsrs quero ter um exemplar desse livro quando for publicado viu... O tipo de livro que amo ler... Já estou apaixonada por esse romance...
ResponderExcluirMeninaa digo eu, você quer me matar do coração com esse comentário? kkkkk Fico muito feliz que a leitura tenha sido prazerosa pra você, minha amiga. Você sabe que eu sonho grande e eu desejo de todo o coração que você tenha sim um exemplar do meu livro! kkkkkk Beijos, muito obrigada. Tem mais alguns capítulos dá uma olhada quando tiver tempo! Cheirooo e eu espero que se apaixone ainda mais ;)
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