terça-feira, 8 de setembro de 2015

Garota Exemplar - Gillian Flynn

Caros(as) Leitores e Leitoras,

A resenha de hoje será um pouco complexa, precisei até de uma dose extra de café com leite e vestir aquele roupão felpudo quentinho para me ajudar a escrever. Culpa, obviamente, da autora que escreveu uma história manipuladora e cheia de reviravoltas, que levam o leitor do amor ao ódio no curto espaço de tempo da passagem de uma página. O livro foi lançado (com a capa do filme - que é a que eu tenho) pela Editora Intrínseca em 2014. Com 446 páginas e uma autora que teceu uma trama magistral, logo Garota Exemplar ganhou adaptação para as telonas.



Sinopse:
Desde sua publicação, em 2012, Garota exemplar tornou-se sucesso de público e crítica, alcançando o topo das mais prestigiadas listas de mais vendidos ao redor do mundo e consagrando sua autora, Gillian Flynn, como a mais aclamada escritora de suspense da atualidade. Agora, a trama sobre o casamento que sai tragicamente dos eixos chega aos cinemas, numa superprodução da Twentieth Century Fox dirigida por David Fincher (A rede social e Clube da luta) e estrelada por Ben Affleck e Rosamund Pike. O roteiro é assinado pela própria Gillian Flynn.
O livro começa no dia do quinto aniversário de casamento de Nick e Amy Dunne, quando a linda e inteligente esposa de Nick desaparece da casa deles às margens do rio Mississippi. Sinais indicam que se trata de um sequestro violento e Nick rapidamente se torna o principal suspeito. Sob pressão da polícia, da mídia e dos ferozmente amorosos pais de Amy, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamento inapropriado. Ele é evasivo e amargo — mas seria um assassino? Ao mesmo tempo, passagens do diário de Amy revelam um casamento tumultuado — mas ela estaria contando toda a história?
Alternando entre os pontos de vista de Nick e Amy, Flynn cria uma aura de dúvidas em que o cenário muda a cada capítulo. À medida que as revelações surgem, fica claro que, se existe alguma verdade nos discursos de Nick e Amy, ela é mais sombria, distorcida e assustadora do que podemos imaginar. Magistralmente bem construído do início ao fim, Garota exemplar é um daqueles livros impossíveis de largar e sobre o qual se quer debater assim que a leitura termina.
“Um thriller envolvente, o retrato magistral do desenrolar de um casamento.”The New Yorker

Bom, tudo o que eu falar poderá ser superficial se nós não debatermos quem é essa Garota Exemplar - o que vai ser uma tarefa nada fácil. Amy Elliott, uma criança rica, filha única de pais psicólogos que fizeram dela uma série de livros. Sua vida sempre foi transformada em literatura, todos os fatos, desde os mais simples, colocaram Amy sempre no dever de ser uma criança perfeita para que seus pais tivessem sobre o que escrever e vender livros. Difícil de acreditar? Jamais! Amy nasceu após vários abortos que sua mãe sofreu. E mesmo depois do seu nascimento, ela conta que seus pais ainda esperavam a qualquer momento o anúncio de sua morte. Amy foi simplesmente colocada em um pedestal como a filha dos Elliott, a filha exemplar. E como ela mesma diz: é difícil carregar o peso de não ter uma substituta (ser filha única), de não poder se dar o direito de fazer suas escolhas, de não poder errar. Seus pais moldaram uma mente inacreditavelmente fria e calculista. Nada saía do controle de Amy. Nada.

Na escola ela sempre foi a garota bela, de conversa inteligente, longos cabelos loiros que simplesmente parecia hipnotizar a todos. Amy era a expressão da garota perfeita. Ela jamais diria algo que já não estivesse pensando antes. Ela jamais esquecia quando alguém a feria de alguma forma. E ela jamais deixaria que as pessoas duvidassem de sua perfeição. Dessa forma, nenhuma atitude dela era impensada. Ela sempre esteve a sombra do que seus pais escreviam, e dessa forma, era escrava e senhora de sua vida. Até o dia que ela conheceu Nick.

Nick Dunne, um homem comum, e como uma história comum. Nick cresceu em um lar onde abrigava um pai doentio que os odiava não importava o que eles fizessem. Filho de uma mãe super protetora, ele é gêmeo de Margo. Ou Go, como todos a conhecem. Nick é jornalista e deixou o lar cedo para ser uma pessoa diferente de seu pai. Sim, esse sempre foi o objetivo. Ser alguém melhor do que o velho bêbado que parecia odiar todas as mulheres que apareciam em sua frente. 

Algumas pessoas sempre o tratavam como o filhinho da mamãe, pelo simples fato de que Nick era de fato isso, e ele gostava. Era rodeado de amores por sua mãe e sua irmã, e com elas aprendera coisas importantes sobre o universo feminino. Inclusive, ele sabia, de certa forma, até dar o sorriso capaz de fazer todas as mulheres simplesmente acreditarem em suas mentiras. Sim, sua vida era um constante amontoado de mentiras. De coisas simples até coisas sérias. Nick não conseguia evitar esse hábito. Ele vive constantemente fugindo, se escondendo. Seu rosto está sempre na forma de "paisagem". Nunca é possível dizer o que Nick está realmente sentindo. Nunca.

Essas duas pessoas incrivelmente peculiares se conheceram em uma noite comum. Quando os dois pareciam pessoas comuns. E quando decidiriam ficar juntos, tempos depois, tudo simplesmente fluiu entre os dois. Eles tinham suas carreiras profissionais bem sucedidas. E pareciam se encaixar como um abraço de saudade, querendo-os sempre mais perto. No entanto, os anos foram passando, eles perderam o emprego, de Nova York tiveram que se mudar para uma cidade em decadência no Meio-Oeste, onde Amy jamais imaginou viver, e a verdade foi surgindo discretamente, no dia a dia, sorrateira como andar na praia, quando você percebe, andou mais do que devia e está muito distante do ponto inicial. Assim estavam Amy e Nick, muito mais distantes do que seus rostos e suas atitudes demonstravam. Eles eram duas ilhas inabitadas no meio do oceano. Uma ao lado da outra. E é nesse momento, que uma das ilhas some. No dia do quinto aniversário de casamento.

Os policiais entraram na residência dos Dunne achando, claramente, aquela situação absurda. Ao longo da narrativa a autora nos atualiza sobre o que a policia descobre, investiga e deduz sobre o caso do desaparecimento de Amy. Mas o mais importante de saber agora é que, o principal suspeito é Nick. E, ao invés dele me provar que era inocente, os capítulos seguiram me deixando absurdamente com o pé atrás em relação a inocência dele. Seu hábito ridículo de mentir, o faz falar coisas absurdas que jamais poderiam ser provadas por outra pessoa. E o mais importante: Nick não tem álibi para o horário do desaparecimento de Amy. Nick é o principal e único suspeito.

A narrativa é desenvolvida pelos dois, alternando-se em capítulos. Nick descreve a história a partir da manhã do aniversário de casamento, ou seja, do desaparecimento de Amy, enquanto ela narra sua história a partir de recortes do seu diário, o primeiro data de 2005 quando eles se conheceram "até os dias atuais". Outro fato importante, que acrescentará mais suspense à obra, é que Amy em todos os aniversários de casamento cria uma caça ao tesouro. Naquela manhã, os policiais encontraram a primeira pista que levaria ao presente que ela havia comprado para Nick. Cinco anos são bodas de madeira. Mas, somente Nick saberia desvendar e descobrir para onde Amy estava "apontando" quando falava docemente sobre tudo o que gostava em seu marido, sobre ele ser caloroso e ter humor. Era um jogo de piadas internas. Um jogo feito especialmente para Nick, que os deixavam cada vez mais próximos da verdade.

As pistas o levaram a vários pontos ao redor do Rio Mississipi, onde, teoricamente, seria muito fácil de esconder um corpo. Todos os indícios apontavam para Nick, todos. Cartões de crédito com compras insanas em seu nome, um seguro de vida duplicado para o caso de Amy morrer, tentativa de esconder provas que o incriminariam... e etc. Mas, quando eu estava bem próxima à verdade, ela simplesmente saltou do livro em meu colo. Tudo o que eu havia construído foi desconstruído em um folhear de página. Uma "troca de papeis" de deixar qualquer um de boca aberta. 

Ir do ódio ao amor e vice e versa, é o que acontece com o leitor desta obra. Dizer que é envolvente, que prende do início ao fim? Balela! Esse livro ultrapassou qualquer expectativa que qualquer pessoa do mundo - e do The New York Times, poderia ter. Tenho certeza disso. 

O desenrolar é surpreendente, e surgem muitos personagens fundamentais, outras histórias... é uma loucura envolvente e viciante. No entanto, o que mais me impressionou, foi a manipulação psicológica que se seguiu. Em um dado momento da história, nós percebemos o quanto o absurdo pode simplesmente ceder à lógica. Como, inacreditavelmente, a autora nos leva a compreender que os laços entre Amy e Nick ultrapassam a nossa compreensão do que é um casamento saudável. Sobre o que as pessoas são capazes de fazer por uma ideia. Sobre como codependência é um assunto sério e precisa de atenção. 

Em minha visão, pelo pouco que sei, pude sentir Amy e Nick doentes de todas as formas possíveis. Amy, uma mente que nunca para, sempre criando cenas, montando estratégias, "como uma escavação arqueológica sem fim" e Nick sempre tentando ludibriar as pessoas com seu sorriso cortês, seu furinho no queixo, suas mentiras... Eles tornaram-se dependentes um do outro de uma forma que sufocaria qualquer pessoa. Incluindo desconhecer-se caso o outro não esteja por perto. Nós podemos passar a história toda oscilando entre os amar e os detestar, mas o final, pelo menos no meu caso, eriçou os pelos do braço. Mostrou como relações complexas se sustentam por si só. Comentem se eu estiver errada, não sou nenhuma estudante do assunto... Mas, me parece que algumas pessoas conseguem criar, no sentido literal da palavra, formas de apreender uma outra pessoa, em uma teia tão bem elaborada, que até essa outra pessoa sentirá que isso o faz bem. Mesmo com todos os motivos errados. Manipulação psicológica é algo muito sério. E eu aprendi com Amy (não que eu quisesse aprender, é que... ah, gente é um livro!) que qualquer pessoa pode ser assim. Qualquer um. Você pode ser assim, eu posso ser assim... 

Esse livro é muito sinistro. Nos faz sentir medo de quem somos ou do que podemos ser quando queremos algo. Embora com histórias de vida completamente diferentes, ou não, esse livro prova aos seus leitores e leitoras, definitivamente, que nem tudo é o que parece ser. E que qualquer pessoa pode ser o que quiser ser. Inclusive, uma Garota (ou Garoto) Exemplar.

Acho completamente dispensável dizer que indico esse livro. Cabe a você decidir se consegue "suportar" o peso que essa história trás. Para mim, ele se tornou um ícone na minha estante. Adoro livros de suspense. E ele me lembrou (em uma escala absolutamente diferente) o livro Não Conte a Ninguém de Harlan Coben, com a diferença da manipulação da mente.

Já disseram por mim o quanto essa autora é genial. Mas eu vou mencionar mesmo assim: Gillian, você me deixou sem ar! Espero ansiosamente pela continuação que ela falou que poderia acontecer. Não que o final tenha ficado aberto, acho que ficou uma brechinha na porta, uma fenda. Algo que dá vontade de entrar para conhecer. Um chamamento. É, leitores e leitoras, Gillian faz isso com a nossa mente.

Vou assistir ao filme assim que possível e volto aqui para comentar com vocês. Espero que tenham gostado, e por favor, por favor, por favor, comentem se já tiverem lido esse mundo que é Garota Exemplar, eu estou com aquela ânsia de querer conversar até com as árvores sobre esse livro.

Com carinho - e com a mente manipulada (rsrs),

Natasha.

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